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Verde, rosa e ‘Marrom’: Alcione é a aposta da Mangueira para voltar a vencer o Carnaval do Rio

Escola quer repetir o “efeito Maria Bethânia” na Sapucaí

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Maria Bethânia, uma das torcedoras mais ilustres da Mangueira, virou enredo da própria escola de samba do coração, em 2016, e foi fundamental para que um jejum de 13 anos sem campeonatos na Marquês de Sapucaí fosse quebrado naquele fevereiro. Em 2024, oito carnavais depois da vitória com Bethânia e há quatro anos sem vencer (a última vez foi em 2019, com uma revisão negra sobre a história do Brasil), a aposta da vez pelas bandas mangueirenses será uma outra grande notável: Alcione.

 

Ávida por recuperar a fase de resultados positivos que vinha mantendo até 2022, quando ficou fora do Desfile das Campeãs pela primeira vez desde Bethânia, a Estação Primeira decidiu, no ano que vem, alterar temporariamente a paleta de cores que a projetou ao mundo: ao verde e ao rosa, combinação que consagrou a agremiação, se juntará “Marrom”, de Alcione. A ocasião é mais do que especial: além da celebração da diva, marca os 95 anos da instituição cultural.

 

“Sou mangueirense há 50 anos. Nunca imaginei ser enredo da Mangueira. Sempre trabalhei com a Mangueira e pela Mangueira, mas daí eu ser enredo, foi uma coisa que custou e ainda está custando. Tenho que estar belíssima”, disse Alcione sobre a homenagem, em março, numa entrevista à Rádio BandNews FM, citando a prioridade do desfile: “Não pode faltar mangueirense. Sei que vai descer o morro todo”.

 

Intitulado “A Negra Voz do Amanhã”, o enredo sobre a cantora maranhense é assinado pelos carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão, pilotando os trabalhos pelo segundo ano consecutivo. Em conjunto, a dupla construiu uma narrativa que lembrará a trajetória de Alcione desde o Maranhão (ela nasceu na capital, São Luís, há quase 76 anos — completados em novembro próximo) até os palcos do mundo inteiro.

 

“Ela (Alcione) escolheu esse lugar. É uma pessoa que não nasceu no Morro da Mangueira, nasceu no Maranhão, mas é como se fosse cria desse morro. Essa identificação que ela tem é muito forte”, explicou Estevão à Agência Brasil em abril, quando o enredo foi lançado. Annik fez coro: “Ela é muito mais do que a cantora que o Brasil conhece. É um ser humano divino”.

 

Para dar o tom da homenagem, além do enredo preparado pelos dois artistas, a Mangueira escolheu, no início de outubro, o samba que conduzirá Alcione e sua história até a Praça da Apoteose. Escrita pelos compositores Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Fadico, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim, a obra chama Alcione de “rainha”, no refrão, e faz referências às músicas mais conhecidas dela. É o caso, por exemplo, de “A Loba” (“Feito uma loba impor seus valores”, diz o verso) e “Não deixa o samba morrer” (“Aqui o samba não morrerá jamais”, segue a letra).

 

A Mangueira será a quarta escola a cruzar a Sapucaí em 12 de fevereiro de 2024, a Segunda-feira de Carnaval. Se sair vencedora do Sambódromo, na Quarta de Cinzas, terá sido campeã 21 vezes. A rainha de bateria da escola é Evelyn Bastos, com raízes no Morro da Mangueira, comunidade da Zona Norte do Rio que sedia a agremiação. E, claro, inúmeros famosos são aguardados para saudar a trajetória de Alcione.

 

Confira a letra do samba-enredo da Mangueira:

 

Xangô chama Iansã

Que a voz do amanhã já bradou no Maranhão

Tambor de Mina, Encantados a girar

O divino no altar, a filha de toda fé

Sob as bênçãos de Maria, batizada Nazareth

Quis o destino quando o tempo foi maestro

Soprar a vida aos pés do velho cajueiro

Guardar no peito a saudade de mainha

Do reisado a ladainha, São Luis o seu terreiro

Ê bumba meu boi! Ê boi de tradição!

Tem que respeitar Maracanã que faz tremer o chão

 

Toca tambor de crioula, firma no batuquejê

Ô pequena feita pra vencer

Vem brilhar no Rio Antigo, mostra seu poder de fato

Fina flor que não se cheira não aceita desacato

 

Vai provar que o samba é primo do jazz

Falar de amor como ninguém faz

Nas horas incertas, curar dissabores

Feito uma loba impor seus valores

E seja o pilar da esperança

Das rosas que nascem no morro da gente

Sambando, tocando e cantando

Se encontram passado, futuro e presente

Mangueira! De Neuma e Zica

Dos versos de Hélio que honraram meu nome

Levo a arte como dom

Um Brasil em tom marrom que herdei de Alcione

 

Ela é odara, deusa da canção

Negra voz, orgulho da nação

 

Meu palácio tem rainha e não é uma qualquer

Arreda homem que aí vem mulher

Verde e rosa dinastia pra honrar meus ancestrais

Aqui o samba não morrerá jamais

Veja as fotos

Daniel Pinheiro/AgNews
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Divulgação
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Alex Palarea/AgNews
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