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Análise: Doc das Paquitas é profundo, completo e feito para gente grande

Disponível no Globoplay, Pra Sempre Paquitas traz uma Xuxa transparente e acolhedora a tudo que suas assistentes de palco sofreram

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*As informações contidas neste texto são de responsabilidade dos colunistas e não expressam necessariamente a opinião do portal LeoDias.

De acordo com o dicionário Michaelis, documentário significa “relativo a documentos; que tem valor ou caráter de documento; filme de caráter informativo e/ou didático dedicado a assuntos variados: animais, acontecimentos, grandes personagens ou pessoas famosas”. O Pra Sempre Paquitas, disponível no Globoplay, cumpre exatamente o que o projeto se propõe a fazer: contar a história das 29 meninas que trabalharam como assistentes de palco de Xuxa por quase 20 anos sem esconder, florear ou manipular nenhum acontecimento; por pior que tenha sido.

Ao longo de toda a trajetória da Rainha dos Baixinhos pela TV em 1983 – desde sua estreia na extinta TV Manchete – até o fim do Planeta Xuxa, em 2002, as Paquitas viveram momentos importantes ao lado da artista. Muitos dos dramas vividos por elas já foi mais do que explorado não só no documentário da Xuxa, lançado no ano passado, como em muitas reportagens ao longo dos anos.

É sabido por todo mundo que elas foram assediadas moralmente pela então diretora e empresária da Xuxa, Marlene Mattos, que foram sexualizadas pelos figurinos da época, que tinham uma rotina exaustiva de trabalho, que eram menores de idade sem nenhum respaldo e cuidado da Globo ou da produção da Xuxa. O documentário, no entanto, vai  muito além de repetir o que todo mundo já sabe.

O projeto, muito bem conduzido e editado por Ana Paula Guimarães, que foi Paquita e se tornou diretora de produtos importantes dentro da Globo, deu voz para que elas pudessem contar as suas versões de fatos que se tornaram públicos e, que pasmem!, nunca tiveram oportunidade de explicar nem a Xuxa.

Xuxa, aliás, nunca apareceu tão transparente como nesse documentário. Pela primeira vez, a loira fez uma mea culpa sobre os assédios sofridos pelas suas meninas e reconheceu toda sua responsabilidade em relação aos abusos e desamparo que aconteceram enquanto elas trabalhavam ao seu lado. Sem tentar se esquivar ou usar qualquer desculpa, Xuxa usou até mesmo a palavra egoísta para se referir a ela mesma em vários acontecimentos.

O momento mais marcante do projeto é o 4º episódio em que Bianca Rinaldi, Ana Paula Almeida, Ana Paula Guimarães, Flavia Fernandes, Priscilla Couto, Juliana Baroni, Roberta Cipriani falaram sobre o famigerado livro Sonhos de Paquita: Nos Bastidores do Xou, que culminou com a demissão de todo grupo em 1995. Não houve lavação de roupa suja; longe disso. O que se viu foi uma conversa madura, com o auxílio de gravações de áudios da época e vídeos, em que Xuxa ouviu, pela primeira vez, a explicação sobre o que levou aquelas adolescentes a quererem escrever o livro.

Foi chocante rever o programa de despedida das meninas ouvindo a narração delas sobre o que acontecia nos bastidores. E foi lindo ver a reação de Xuxa, reconhecendo que não foi uma boa Fada Madrinha naquele momento. Quem viveu aquela fase vai se arrepiar dos pés à cabeça com as falas desse acontecimento. E quem nunca soube porque a Catuxa não participou do último Xuxa Park vai se impressionar com a coragem e a garra dessa mulher.

O último episódio também tocou em pontos sensíveis como a falta de apoio à Geração 2000 na época do incêndio durante as gravações do Xuxa Park, em 2001, e a demissão do grupo. Além das ex-Paquitas, a mãe de Lana Rhodes falou com todas as letras que nem Marlene Mattos, nem a própria Xuxa se despediram das meninas, que souberam que o sonho havia acabado por um contato de um advogado.

Com lágrimas nos olhos, a apresentadora reconheceu que sente muito por ter falhado com todas as suas ex-companheiras de palco, mas se ressente ainda mais por não ter acolhido as meninas do último grupo, que não ganharam um abraço sequer de despedida.

Aliás, as Paquitas New Generation e as Paquitas Geração 2000 mereciam mais espaço. Fazer os dois grupos dividirem um último episódio, que ainda teve a gravação do Altas Horas no conteúdo, não fez muito sentido. Se por muito tempo elas ouviram que foram “genéricas”, o documentário acabou corroborando com essa máxima ao não dividir melhor as histórias dos quatro grupos.

Apesar de não ser a estrela principal do doc, Xuxa foi generosa, acolhedora e acabou refletindo sobre a própria vida e o seu passado. Sem dúvida nenhuma, é um projeto a ser visto por todo mundo; independentemente de ter sido fã ou não da Rainha dos Baixinhos ou das Paquitas. É um doc para gente grande.

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