Atriz trans de “Terra e Paixão” celebra espaço na TV: “Vamos seguir”

A atriz Valéria Barcellos, que está no ar na novela “Terra & Paixão” da Globo, conversou com exclusividade com o portal LeoDias. Ela destacou a importância de sua personagem Luana na história escrita por Walcyr Carrasco, um marco em sua carreira e representatividade para pessoas trans. Além disso, falou sobre a necessidade de lidar com o preconceito e promover a compreensão sobre diversidade e respeito.

Questionada sobre a importância de Luana em sua vida, Valéria respondeu: “Ela é minha primeira personagem em novela, em horário nobre, com grandes nomes da TV. Luana é o melhor pontapé inicial desse universo que eu poderia ter tido na vida. Ela é a coroação de uma vida dedicada à arte! Luana sou eu e muitas outras como eu. Tenho recebido inúmeras mensagens de pessoas trans falando o quanto é lindo poder se ver num lugar humanizado, bonito, com força e delicadeza. Luana é sim o grande papel da minha vida até agora. Mas quero tudo… quero mais!”

Sobre o relacionamento de Luana com o advogado na trama das 21h, a atriz acredita que a personagem está quebrando paradigmas na TV em horário nobre. “Acredito que ela está mostrando o quanto é NATURAL o afeto entre um homem cisgênero e uma mulher trans. E isso passa pelo afeto. Sem interpretações arcaicas sobre sexualidade, sabe? As pessoas precisam urgentemente entender a diferença entre gênero e sexualidade, mais para começar a compreender que a vida de cada um é de cada um, que ninguém tem o direito de se meter, opinar ou dissertar sobre a vida alheia, mas tem o dever de respeitar. Há muitas camadas nesse casal”, disse.

“Luana se sente até mesmo “/vulnerável”/ ao abrir-se para esse romance, e é lindo e essencial sentir uma mulher como ela (trans/preta/periférica) somente preocupada em ser amada, não em amar… mas ser amada. Um casal afrocentrado, feliz e se amando. Que estranho pensar que boa parte da população faz isso como respirar e nós da comunidade LGBTQIA+ precisamos ponderar tudo isso”, acrescentou a atriz.

Quando questionada sobre como lida com o preconceito ainda presente na sociedade, Valéria responde de forma enfática: “A gente sempre pensa que o meio artístico é muito mais benevolente, muito mais cabeça aberta, muito mais sapiente dos direitos e dos deveres das pessoas, porque a gente está falando sobre isso, lidar com o preconceito a gente está falando sobre direitos e deveres, ninguém tem que aceitar nada, até porque a gente não está pedindo aceitação, mas temos o dever de respeitar. É muito doido a gente pensar que é preciso aprender a lidar com o preconceito ao invés de chutar ele. A gente vive em uma sociedade em que há muita tolerância e intolerância das coisas”.

“Falo sempre que não sou completamente aceita nos lugares, eu sou tolerada. Ainda assim, percebo uma abertura e uma vontade das pessoas, mesmo que pequena, de entender esse universo. A gente vai continuar aqui, já avançamos muito e vamos avançar mais e vai estar em todos os lugares. A Luana e eu na novela das nove ao lado de tanta gente importante é a ponta de um iceberg de muita coisa que pode e vai acontecer porque a gente não vai retroceder. Eu lido de maneira muito enfática com o preconceito. Quando é uma coisa muito perigosa, busco a Justiça porque a gente tem leis que nos defendem. Não existe ficar falando para gente que não quer ouvir, falo e tento me aproximar de quem quer ouvir e tem muito a dizer”, acrescentou.