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Modo autodestrutivo: como a Globo conseguiu ter o pior ano de sua história

Falta de planejamento e queda na qualidade das produções impactaram o 2023 da emissora líder no Brasil

Os pontos que foram determinantes para a crise de qualidade e programação da Globo são vários, e pior, eles saltam aos olhos do público. O cenário atual, principalmente na faixa das novelas, é preocupante até para os mais otimistas. Em 2023, a emissora viu seus lançamentos serem engolidos pelo sucesso incontestável de praticamente todos os produtos, inéditos ou não, disponibilizados pelo Globoplay, seu próprio streaming. 

No ano em que nada funcionou, enxugar a folha salarial foi uma saída necessária, por outro lado, nunca em toda sua história uma cabeça pensante fez tanta falta como agora.

Jogado aos leões, José Luiz Villamarim, diretor de Teledramaturgia, leva a culpa da fase sombria que o departamento enfrenta desde a pandemia. No cargo há mais de três anos, está na conta dele todos os recentes fracassos, “Um Lugar ao Sol”, “Travessia”, “Cara e Coragem”, “Fuzuê” e “Elas por Elas”. Essa última, para o desespero geral, chegou a dar menos audiência que os últimos capítulos da segunda reprise de “Mulheres Apaixonadas”, no Vale a Pena Ver de Novo. 

Na opinião pública, por meio de pesquisas feitas pela própria Globo, existem erros amadores nas mais diferentes esferas de sua dramaturgia: roteiro, escalação de elenco, direção e abordagem dos temas. 

Tramas impopulares, horários equivocados e falta de planejamento, que um dia foram detalhes de extrema atenção da direção, hoje abrem margem para outros tantos problemas. O recurso dos remakes, que mais parece alternativa de urgência para salvar a audiência, também se tornou uma dor de cabeça.

Num curto espaço de tempo, foram mais fracassos que sucessos. Para a Globo e tudo que ela representa no mercado, isso é inadmissível. E vem aí, “Renascer”, onde todas as fichas para 2024 estão sendo depositadas como confiança de reverter a grade cambaleante. O mesmo ocorreu com “Pantanal”, e apesar de ter dado muito certo, a grade ficou refém da novela e sofreu duras críticas pela overdose de conteúdo repetido.

O problema não está só nas novelas

Com a exceção do jornalismo, a programação da Globo tornou-se autodestrutiva. No início do ano a emissora olhou para a Band e mirou em Paola Carosella, um desejo antigo, porém, faltou o básico, a escolha do projeto certo. A ex-jurada do MasterChef aceitou o convite para mudar de emissora e, no ar em “Minha Mãe Cozinha Melhor Que a Sua”, percebeu a grande cilada. 

Além da acusação de plágio, o programa passou em branco, com baixíssima repercussão até mesmo na internet. Já Paola, afundou na areia movediça da grade empobrecida dos domingos. Pelo mesmo caminho foi a “Pipoca da Ivete”.

Ainda no entretenimento, a Globo teve que cumprir contrato e colocar no ar mais duas temporadas do The Voice Kids e a última, por fim, da versão tradicional, que concluiu seu cansativo ciclo recentemente, da pior forma possível. Uma tragédia anunciada, afinal, a atração já não funcionava há anos por aqui, mas era insistentemente renovada para mais edições. 

O “No Limite” ganhou uma temporada sofrível, sem apelo, e saiu do ar sem deixar saudades. A régua do humor ainda divide opinião na TV aberta, afinal, é uma questão apenas de gosto, mas o ponto é: o que está no ar não tem agradado. E por aí, entende-se o “Vai Que Cola”, “Que História É Essa, Porchat?” e “Lady Night”, que também precisa de renovação ou até um respiro.

O “Linha Direta” voltou e fez um enorme sucesso, mas foi descontinuado e ninguém mais fala sobre o assunto. Para impulsionar as noites, a Globo abriu espaço para os produtos originais Globoplay, curiosamente com foco nos projetos que foram idealizados para a programação, mas terminaram no catálogo do streaming, e surpreenderam: “Onde Está Meu Coração”, “Encantado”/s”, “Rensga Hits” e “Todas as Flores”.

Claro, são válidas as tentativas das novidades, visto que a Globo ainda não tem uma concorrente a sua altura, mas é preciso conhecer sua própria história antes de querer fazer uma revolução. 

A Globo sempre soube dosar as glórias do passado com o que há de mais moderno, mas neste momento de mudanças na maneira como a TV opera no Brasil e como a população consome seus produtos, é preciso entender que a emissora fala para uma grande massa, não para uma bolha. 

A linguagem da TV precisa ser a mesma do povo, a tradicional. E por mais que tentem sucumbi-la, ainda assim ela é a preferência e isso precisa ser enxergado como a principal engrenagem. Como bom exemplo disso, “Vai na Fé” segue fazendo falta. 
 

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