Beija-Flor vai levar público do Carnaval do Rio para viagem a Maceió no desfile de 2024
Agremiação ressaltará a importância de Rás Gonguila para o carnaval de rua local
“Olha a Beija-Flor aí, gente! Chora, cavaco!”: o famosíssimo grito de guerra de Neguinho da Beija-Flor, o intérprete mais conhecido do Carnaval do Rio, está prestes a ecoar tanto na Marquês de Sapucaí quanto em Maceió, a mais de dois mil quilômetros da “Cidade Maravilhosa”. É que a escola de samba azul e branca de Nilópolis, município da Baixada Fluminense, está se preparando para apresentar um enredo dedicado à cultura da capital alagoana, pano de fundo de seu desfile em 2024.
Desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo (estreante na Beija-Flor), “Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila” é o enunciado que revela a história de um filho de escravizados (o próprio Gonguila) que, acreditando ser descendente da realeza da Etiópia, fundou o bloco Cavaleiros dos Montes, uma referência na folia alagoana, e se transformou numa das figuras mais conhecidas da história da cidade.
Araújo conta que Gonguila era um engraxate e porteiro que vivia em Maceió no início do século XX. Foi naquela época que, ouvindo o rádio, o homem soube da coroação do último imperador etíope e, assim, projetou que poderia ser parente distante daquela figura.
A imaginação fez Gonguila se tornar conhecido localmente — e, agora, na folia carioca: “Ele acabou se tornando uma figura extremamente importante e influente pelas ruas da cidade. Recebia chamados e pedidos de opinião até dos políticos e intelectuais de Maceió. Tornou-se conselheiro. E era um homem apaixonado pelo Carnaval”, complementou Araújo.
A Beija-Flor tem experiência quando a proposta é levar o público a viajar por localidades do Brasil e do mundo por meio de seus enredos — os temas incluem de São Luís (MA); Nova Lima (MG); Poços de Caldas (GO); Manaus (AM) até a Guiné Equatorial. Desta vez, a agremiação terá os já tradicionais reforços de Neguinho (sem a companhia de Ludmilla, que deixou o time de intérpretes), Selminha Sorriso e Claudinho (o notável casal de mestre-sala e porta-bandeira) e da rainha de bateria Lorena Raíssa, que estreou na temporada passada aos 16 anos.
No início de outubro, foi escolhido o samba-enredo criado pelos compositores Kirazinho, Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e Dr. Rogério para embalar o desfile de fevereiro. A Beija-Flor será a segunda escola a desfilar no dia 11 daquele mês, o Domingo de Carnaval de 2024. Nos quase 75 anos desde a fundação (a escola faz aniversário em dezembro, no dia de Natal), foram 14 campeonatos. O do ano que vem, se for conquistado, pode ser o 15º.
Confira a letra do samba-enredo da Beija-Flor:
Em Maceió
O paraíso deu à luz a um menino
À beira-mar nascia o rei
Que o senhor das ruas deu o seu caminho
Eu acreditei no herdeiro
Da dinastia e das lutas de Zumbi
De Palmares às palmeiras e marés
Da cultura e bravura dos Tupis e Caetés
Ao nobre engraxate um novo horizonte
Real cavaleiro dos montes
Tem mironga, festa da ralé
Malandragem, frevo arrasta-pé
A magia que avoa, o rosário no andor
A cantiga que ecoa é do meu tambor
Gira-mundo feito pião que “gonguila” do jeito
Que eterniza Benedito dos plebeus
Quando encontra a corte africana
A nobreza alagoana realiza os sonhos seus
Vai meu Beija-flor, a soberania popular que traz no batuque de Rás
Num côco, um pouco de samba de roda
E o povo anuncia: é ela!
Delira…
Tem Pajuçara no mar da Mirandela
Aqui é Beija-flor doa a quem doer
Do gênio sonhador a gana de vencer
Tá no meu peito, tá no meu grito
Escola de respeito que coroa Benedito
Veja as fotos
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