Entre genialidade e o lampejo: a encruzilhada de Endrick
Da base ao Real Madrid, entre lampejos e provações, confira a trajetória precoce de um talento que divide o mundo entre empolgação e desconfiança
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O futebol às vezes se curva diante de fenômenos que surgem como raios. Explodem, iluminam o céu, assustam e fascinam — mas também somem rápido. E é impossível olhar para Endrick Felipe, hoje com apenas 18 anos, sem pensar nessa imagem.
A jornada do garoto que saiu da base do Palmeiras e chegou ao Real Madrid é uma daquelas narrativas que pedem pausa e reflexão. Não só pelos números — que por si só impressionam — mas pelo impacto, pelos gestos, pelos gols que parecem ser mensagens cifradas de um talento que não cabe na cronologia comum.
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O menino dos 161 gols
Endrick não surgiu. Ele irrompeu. Pelas categorias de base do Palmeiras, marcou 161 gols em 188 jogos — 86 deles em partidas oficiais. Foi campeão de tudo: Sub-11, Sub-13, Sub-15, Sub-17, Sub-20. Artilheiro da Copinha em 2022, era impossível ignorá-lo.
Com 16 anos, tornou-se o jogador mais jovem a atuar e marcar pelo profissional do Verdão. Mas, ao subir, os holofotes pesaram. A promessa virou expectativa, e o futebol profissional mostrou seus dentes. Oscilou, sentou no banco, foi questionado. A cada jogo sem brilho, uma ponta de dúvida se acendia. Estaria ele pronto?
O jogo que virou filme
Veio o Brasileirão de 2023. E veio o jogo que mudaria tudo. Palmeiras e Botafogo. O Verdão perdia por 3 a 0. Parecia entregue. Até que Endrick decidiu colocar uma partida que parecia perdida no bolso e mostrou o quanto é iluminado. Dois gols dele, golaços. Um gás inexplicável, uma energia que contaminou o time. Virada histórica: 4 a 3. E a arrancada para o título começou ali. Com aquele garoto. De novo, um raio.
Seleção, gol em Wembley e o peso de ser esperança
A venda para o Real Madrid foi a mais cara da história do clube. E então, o salto: convocação para a Seleção. Wembley. Inglaterra. Gol. Em seguida, outro golaço contra a Espanha, em pleno Santiago Bernabéu. Antes da Copa América, entrou novamente contra o México e deixou sua marca: três gols em três jogos, todos saindo do banco.
Apesar da boa fase, foi preterido como titular na Copa América. Entrou apenas na eliminação contra o Uruguai, com o time pressionado e desfalcado. Jogou mal, protagonizou lances impulsivos e infantis, como quando preferiu atingir o adversário em vez de disputar a bola. Aquilo acendeu o alerta: seria Endrick apenas um fenômeno de lampejos?
Na sequência, sua postura mais discreta, declarações pouco contundentes e uma vida pessoal cada vez mais comentada nas redes fizeram com que o brilho se apagasse. De promessa esperançosa, virou meme. Quando perguntado em uma entrevista sobre sua inspiração no futebol, respondeu Bobby Charlton, ídolo inglês dos anos 1960. Uma escolha incomum para um garoto brasileiro que buscava representar uma nova geração. Seria fruto de um “media training” excessivo ou um garoto que realmente estuda o jogo? A primeira impressão passou a dominar as redes.
A estreia no Real Madrid: minutos de ouro
Mas os grandes, os que têm algo além, sabem silenciar a dúvida com a bola nos pés. E foi assim que Endrick chegou ao Real Madrid. Negociado por um valor recorde na história do Palmeiras, chegou à Espanha cercado de dúvidas. Seria emprestado? Jogaria no time B? Como um garoto de 17 anos competiria com nomes como Mbappé, Bellingham e Vini Jr?
Em La Liga, contra o Valladolid, entrou nos acréscimos no lugar de Mbappé. Em minutos, marcou. Gol bonito. Gol frio. Gol de quem ignora o peso do escudo mais poderoso do planeta.
Em sua estreia na Champions League, principal competição do planeta depois da Copa do Mundo, mostrou que ousadia é sua assinatura. Entrou com o jogo apertado contra o Stuttgart, e já deu um passe açucarado para Vini Jr., que não virou assistência por detalhe. Furou um chute na sequência. Poderia ter se abalado. Mas não. Na jogada seguinte, arrancou e viu Mbappé de um lado, Vini do outro.
Os dois protagonistas do clube e melhores do mundo. Era só tocar, afinal, a responsabilidade é deles mesmo. Mas não: chutou. Forte. Preciso. De longe. Golaço. O mundo parou. “Esse moleque é maluco”, disseram alguns. Outros: “Esse moleque é gênio”. Coragem que beira a loucura. Ousadia de quem não teme errar.
Erros, aprendizado e a volta por cima
Dias depois, errou em jogada semelhante contra o Atlético de Madrid. Quis repetir a mágica e ignorou Bellingham. O time perdeu, ele perdeu espaço. Mais críticas. Mais incertezas.
Mas não se calou. Trabalhou. Voltou na Copa do Rei e novamente marcou golaços. Hoje, é artilheiro da competição, com 5 gols — marca que só Cristiano Ronaldo havia alcançado pelo clube numa única edição, em 2012/13. São 7 gols em 559 minutos, com a melhor média do elenco: um gol a cada 80 minutos, sendo que tem pouca minutagem e entra a maioria das vezes no final da partida.
Endrick é o eco da pergunta que não cala
O futebol brasileiro carrega a saudade de um novo gênio, um novo símbolo. Desde Neymar, ninguém conseguiu preencher esse vazio. Endrick surgiu como esse nome. E por isso, talvez, seja julgado com mais severidade.
Mas será ele um gênio precoce ou apenas um lampejo talentoso em meio ao caos? A resposta ainda está por vir. O que já se pode dizer é que Endrick é diferente. Não só por fazer gols. Mas por quando faz. Por como faz. Pela forma com que transforma um toque na bola em grito. Por sua capacidade de errar, cair, se levantar e seguir.
Um adolescente que tem Mbappé e Bellingham ao lado, mas que escolhe o chute. Isso não é apenas coragem. É instinto. É algo que não se ensina. E, talvez, ser gênio seja exatamente isso: errar como um menino, decidir como um veterano, e seguir adiante como se soubesse que nasceu para algo maior.
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