Menina de 13 anos recebe oração de “cura gay” em igreja e Ministério Público intervém
Pastor alegou que vídeo foi retirado do contexto
Um ato polêmico de um pastor da igreja evangélica Catedral da Família, em Palmas (TO), acabou culminando em uma denúncia no Ministério Público do estado. No vídeo, que viralizou nas redes sociais, o pastor Luiz Jesus ora por uma menina de 13 anos pedindo que ela fosse curada de sua homossexualidade, clamando para que o “demônio” saísse do corpo dela. As informações são do G1.
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No vídeo, o pastor faz orações pela menina, que está acompanhada pela sua família. Ele usa frases como: “Um demônio que gritou e disse assim: ‘muda seu sexo’. Mas a vontade é cortar o cabelo e deixar igual o meu” e “Jesus gritou na minha alma vai casar com homem, vai ter filhos. A partir de hoje vai se vestir igual mulher. Porque Jesus arranca o demônio lá de dentro agora”. Ele alega que recebeu uma revelação de que a menina já teria um nome de homem no “mundo espiritual” e que a partir daquele momento o desejo dela seria mudado.
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O uso de expressões consideradas homofóbicas foram denunciadas ao MP pelo Coletivo SOMOS (PT), um grupo de pessoas que foram eleitas de forma coletiva para o cargo de vereador de Palmas. A denúncia foi feita dia 29 de novembro. Para o Coletivo, o pastor utiliza discursos que ligam uma determinada orientação sexual ao “demônio”, tratando-a como uma condição a ser “corrigida” por intervenção divina. Estaria também fomentando discursos homofóbicos.
O Coletivo ainda pontuou um outro episódio que aconteceu na mesma igreja, em que, após um momento religioso promovendo uma “cura”, uma idosa vomita em um balde e o pastor diz que ela ‘vomitou o câncer’.
“A divulgação dessas práticas reforça discriminações e agrava o sofrimento psicológico da comunidade LGBTQIA+, além de colocar vidas em risco ao sugerir curas milagrosas para doenças graves como o câncer”, disse José Eduardo de Azevedo, membro do Coletivo SOMOS.
Conforme destacado pelo grupo político, a denúncia está fundamentada na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e no Código Penal e ressalta a gravidade das violações pela ampla circulação nas redes sociais. A reclamação foi encaminhada, na forma de notícia de fato, para a 15ª Promotoria de Justiça da Capital, que atua na área de defesa dos Direitos Humanos Fundamentais e Minorias.
O que diz o pastor?
Em entrevista ao g1, o pastor negou que o momento tenha sido uma “cura gay”: “O que aconteceu lá não foi cura, uma cura gay como estão dizendo, uma cura homossexual. O vídeo está cortado, eu tenho o vídeo completo. E assim, na minha igreja, talvez ninguém sabe, tem casal de homossexual é meu amigo, eu tenho acho que cinco ou seis homossexuais na minha igreja. Então, tipo assim, eu não sou um pastor homofóbico como estão dizendo. Eu não postei para ganhar like nem nada. E na nossa igreja nós respeitamos todo mundo”, se defendeu.
O pastor também explicou que o vídeo foi repercutido de forma descontextualizada: “Estão desvirtuando a coisa, estão estão jogando pro outro lado. Eu não tenho tenho nada contra ninguém. E a minha defesa que eu falo pra vocês é que eu não fiz nada de errado”.
Ele alega que o uso da palavra demônio se referia ao fato da menina sofrer com insônias e pesadelos: “Quando eu falo do demônio é de dentro do quarto dela que ela não estava dormindo direito. Não é nada a ver do demônio de homossexualismo que povo está falando não. Aí o demônio estava dentro do quarto dela, tirando a paz dela. Ela não dormia direito há muito tempo. Tudo que eu estou falando eu tenho o vídeo completo”, disse.
“No vídeo eu falo assim, que ela queria cortar o cabelo curto igual o meu e usar roupa de homem. Inclusive quando ela chegou da escola no outro dia, ela arrancou todas as roupas de homem e está usando está usando roupa de mulher agora, entendeu?”, afirmou. O vídeo foi excluído das redes sociais da Igreja, após a repercussão negativa e os inúmeros comentários criticando.
O que diz a família da menina?
O pai da jovem alega que a edição do vídeo foi algo que tirou a situação do contexto. “A questão lá era da insônia, que ela estava sem dormir há uns três ou quatro meses, ela acordava no meio da noite com pesadelos. De repente ela foi lá na frente e pediu uma oração […] Em nenhum momento foi aliada a palavra demônio com escolha sexual”, afirmou o pai.
O pai chegou a alegar que a filha teve sentimento por outras colegas e que a família estava em fase de aceitação sobre a situação. Contudo o pastor, fez uma oração “prevendo” que a menina iria se casar, ter filhos e usar coisas “femininas”. No fim das orações, ela declara: “A partir de hoje, a minha vida é mudada. Eu sou mulher e eu aceito o que Deus tem para mim”.
Sobre a denúncia, o pai afirma que ele e a família seguem os preceitos cristões e estão em seu direito de exercer a religião: “Acho que eles estão no papel deles, senão eles não estariam na política. Eles têm uma bandeira, que é defender a diversidade sexual. […] Só que eles têm que entender que existe o direito de culto, porque senão nós não estaríamos na igreja se a gente não concordar com a Bíblia”, completou.
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