O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) teria mentido para o STF e violado a ordem do ministro Alexandre de Moraes de não se comunicar com outros investigados no âmbito da investigação, segundo reportagem da Veja.
Durante o depoimento, ao ser confrontado pelo advogado Celso Vilardi — defensor de Bolsonaro — sobre a possível utilização de um perfil no Instagram que não está em seu nome, o militar respondeu: “Não”. Em seguida, completou: “Todos os meus celulares foram apreendidos”.
Vilardi continuou a sabatina perguntando se o militar “conhece um perfil chamado @gabrielar702?”. Em resposta, Cid afirmou: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Apesar da negativa, a revista Veja teve acesso a capturas de tela que indicam a utilização de um perfil com o nome “Gabriela R” por Cid. As mensagens foram trocadas com pessoas ligadas ao entorno de Bolsonaro e revelam uma narrativa distinta daquela apresentada por ele em seus depoimentos à Polícia Federal – o que, segundo a publicação, caracteriza “jogo duplo do delator” -.
Cid firmou acordo de colaboração premiada com a Justiça, o que o obriga a falar somente a verdade. Caso minta ou omita informações, poderá perder os benefícios pactuados e ter a delação anulada.
Ainda segundo a reportagem, Vilardi já teria conhecimento de que Cid violou ao menos duas ordens judiciais impostas por Alexandre de Moraes. As evidências dessas violações estariam justamente nas mensagens analisadas.
Durante o período em que cooperava com a PF, o militar teria compartilhado informalmente com aliados detalhes dos bastidores dos depoimentos e até informações sigilosas. Em uma das mensagens, o usuário ligado ao perfil usado por Cid desabafa sobre pressões e acusa o delegado responsável pelo inquérito de tentar manipular seu relato. A publicação também indica que o militar afirmou que Alexandre de Moraes “já teria decidido condenar alguns réus antes mesmo do julgamento”.
As trocas de mensagens teriam ocorrido entre 29 de janeiro e 8 de março de 2024 – meses antes de o acordo de colaboração ser homologado oficialmente por Moraes -. Em trechos revelados pela revista, Cid relata o desgaste emocional causado pelas longas sessões de depoimento: “Foram três dias seguidos”. Em outro momento, questiona a abordagem dos investigadores: “Toda hora queriam jogar para o lado do golpe… e eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito”.
Demonstrando desânimo com os rumos do processo, o militar comenta: “Eu acho que já perdemos… Os Cel PM (coronéis da Polícia Militar do Distrito Federal) vão pegar 30 anos… E depois vem para a gente”. Ele ainda vislumbra uma saída política como única chance de evitar condenações: “Só o Pacheco ou o Lira vai (sic) nos salvar. O STF está todo comprometido. A PGR vai denunciar”.
O acordo de colaboração impõe algumas regras: o colaborador não pode faltar com a verdade, inventar versões contraditórias, proteger terceiros ou comprometer a investigação.
Durante o interrogatório no STF, feito na presença de Bolsonaro e outros seis altos integrantes do antigo governo, Cid reafirmou declarações de peso: que participou de reuniões entre militares e o ex-presidente nas quais se discutiam maneiras de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); que Bolsonaro acreditava em fraudes nas urnas eletrônicas; e que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, teria sinalizado apoio ao ex-chefe do Executivo.
Para o Ministério Público, esses elementos — somados a documentos e outros testemunhos — reforçam a tese de que Bolsonaro e aliados articularam um plano para subverter o resultado das eleições e promover um golpe de Estado no fim de 2022.