Do ovo frito à morte: médico explica o que aconteceu no caso que tirou a vida de mulher
Elisângela Oliveira de Jesus, de 33 anos, quebrou o ovo num copo que tinha água. Sem perceber, ela despejou o conteúdo na frigideira com óleo, e o fogo subiu
Óleo quente, ovo e um pouco de água foi a mistura determinante para a morte de Elisângela Oliveira de Jesus, de 33 anos. O caso ocorrido em Rio Claro, São Paulo, chocou a população e está repercutindo a nível nacional. A reportagem do portal LeoDias conversou com o Dr. Diego Rocha Moreira, Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Albert Sabin de SP (HAS), uma das maiores referências na área, que esclareceu pontos importantes sobre processo de fritura que tirou a vida da mulher.
Sobretudo, o profissional faz o alerta sobre água em alta temperatura. “Ela passa por processos físicos que pode culminar com uma catástrofe. Quando a água que estava dentro do copo entrou em contato com o óleo quente, imediatamente iniciou um processo de evaporação, isso por que a temperatura de ebulição da água é mais baixa que a do óleo”, explicou ele.
Elisângela quebrou o ovo num copo que tinha água. Sem perceber, ela despejou o conteúdo na frigideira com óleo, e o fogo subiu. O fogo atingiu parte do rosto dela, a camiseta e o sutiã de amamentação que ela usava. Elisângela tinha uma filha de um ano.
“Com isso houve formação instantânea de vapor d’água que até alguns milésimos de segundos ficaram presos sob uma fina camada de óleo na superfície da frigideira. Com o rápido acúmulo e expansão desses vapores a fina camada de óleo já não é capaz de conter a água abaixo, provocando uma rápida explosão desses vapores, que por possuir uma baixa densidade, acaba alcançando uma altura considerável que é capaz de atingir o rosto que quem estiver por perto, e como essa explosão é muito violenta, esses vapores d’água sempre levam consigo pequenas porções do óleo quente. Então a queimadura se dá tanto pelo óleo quanto pela água quente.”
A mulher foi levada para a Santa Casa de Rio Claro e depois transferida para o hospital de Limeira, que é especializado em queimados. Ela passaria por uma cirurgia nesta segunda, mas sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu.
Dr. Rocha Moreira fiz que depois da queimadura na face, que consideramos uma situação de gravidade importante, eventos fisiopatológicos que seguem são cruciais e devem ser tratados imediatamente.
“A queimadura da água e óleo provoca lesões que vão desde a pele e até dos tecidos mais profundos do rosto, como a gordura e até mesmo dos músculos da face ou mesmos os ossos, podem gerar uma reação inflamatória significativa. Essa resposta inflamatória é muito danosa ao organismo gerando uma tempestade de liberação de substâncias pró-inflamatórios na circulação sanguínea”.
Lesões que levaram à morte
Essas substâncias tem a capacidade de causar disfunção múltiplas de órgãos como o rim, pulmão e até coração. As lesões induzidas pela queimadura, podem reduzir a capacidade dos pulmões em manter uma boa ventilação, causando baixos níveis de oxigênio no sangue, afetando consequentemente o funcionamento normal do coração, podendo causar arritmias, diminuição da contratilidade do músculo cardíaco, etc. Em casos extremos, a combinação de choque hipovolêmico, resposta inflamatória sistêmica grave pode levar à falha do coração em bombear adequadamente o sangue e quando não se é possível reverter essa situação o óbito pode ser inevitável”, concluiu o médico.
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