Perto da liberdade, Maníaco do Parque diz que mudará de nome e afirma estar “transformado”
O ex-motoboy foi sentenciado a 280 anos de prisão pelo estupro e assassinato de nove mulheres em São Paulo, mas será libertado em 2028, após cumprir o período máximo de reclusão permitido pela legislação, 30 anos

Francisco de Assis Pereira, conhecido nacionalmente como o Maníaco do Parque, declarou em entrevista concedida à psicóloga forense luso-brasileira Simone Lopes Bravo, que pretende mudar de nome ao deixar a prisão. Cumprindo pena por uma série de crimes que chocaram o país nos anos 1990, ele deve ser libertado em 2028, após completar o período máximo de reclusão permitido pela legislação vigente na época, 30 anos. As informações são do jornalista Ullisses Campbell, na coluna True Crime, do O Globo.
O ex-motoboy foi sentenciado a 280 anos de prisão pelo estupro e assassinato de nove mulheres em São Paulo. A liberdade ocorrerá sem progressão de regime, o que significa que ele sairá direto da cela para as ruas, sem ser submetido a avaliações psicológicas que normalmente ajudam a medir o risco de reincidência de um preso.
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Hoje com sobrepeso e sem os dentes, perdidos devido a uma condição genética chamada amelogênese imperfeita, Francisco de Assis Pereira vive recluso na cela 59 do Pavilhão 3 da Penitenciária de Iaras, interior de São Paulo. Ele divide o espaço com outros seis detentos condenados por crimes sexuais.
Em entrevista ele declarou: “Sou um novo homem. Aquele Francisco não existe mais.”
O encontro entre os dois foi fruto de uma troca de correspondências iniciada pela profissional, que reside em Portugal e pretendia escrever um livro sobre o perfil psicológico de criminosos. Após enviar cartas para mais de dez detentos, apenas Francisco respondeu. Para conseguir visitá-lo, Simone contratou uma advogada no Brasil, conseguiu autorização para ser registrada como “amiga” no prontuário do preso e passou a vê-lo regularmente.
No sistema prisional paulista, apenas parentes diretos ou cônjuges com documentação oficial têm permissão para integrar a lista de visitantes. Amigos só são incluídos quando o detento não tem familiares registrados. Segundo relato de Maria Helena Pereira, mãe do criminoso, a psicóloga lhe ofereceu dinheiro para que ela fosse retirada da lista. “Aceitei porque estava precisando do dinheiro”, contou a mãe.
Ao longo dos encontros com Simone, Francisco revisitou detalhes perturbadores dos crimes. Ele admitiu que retornava aos locais onde abandonava os corpos e se masturbava diante deles. “Ficava com muitos pensamentos. Não conseguia parar de pensar. Aqueles pensamentos me excitavam.” Segundo ele, as vítimas eram abordadas no Parque Ibirapuera com falsas promessas de trabalho como modelo. Pelo menos nove mulheres foram assassinadas. Outras, ele garante, foram poupadas. “Mesmo dentro da mata, resolvia não fazer nada com algumas delas. Aí eu as levava de volta até o ponto de ônibus e falava para ela ter cuidado.” E assegura: “Nem um beijo.”
Ele também falou sobre as origens de seus impulsos sexuais e violentos. Disse que tudo começou na infância, quando teve contato precoce com revistas pornográficas no ambiente de trabalho do avô. Na adolescência, afirmou ter uma vida sexual ativa e relatou conflitos internos intensos: “Meus pensamentos eram mais fortes que eu. Não conseguia controlar.” Questionado por que não atacava homens, respondeu: “Porque eu me sentia atraído por mulheres, pelo corpo das mulheres.”
Francisco afirma ter passado por uma mudança radical em 1999, quando se converteu à fé evangélica ainda dentro do presídio de Itaí, onde foi batizado. Desde então, diz não ter mais sido atormentado por pensamentos violentos. “Nunca mais voltaram.” E garante que sua vida espiritual é constante: “Até quando vou caminhar, estou meditando na palavra.”
Apesar da religiosidade, diz que não sente necessidade de se desculpar com os familiares das vítimas. “Deus já me perdoou.” Afirma que aceitaria conversar com os parentes, mas limita sua mensagem a: “A conversão é o único caminho.”
A entrevista também incluiu uma série de perguntas feitas por Simone sobre sua trajetória, saúde e cotidiano na prisão. Confira alguns dos trechos:
Quem é o Francisco hoje?
“Transformado de dentro para fora.”
No passado, quem era você?
“Um homem com muito medo dos próprios pensamentos.”
Ter várias namoradas gerava que sentimento em ti?
“Na verdade, eu queria ter uma namorada, mas não conseguia manter uma relação. Queria casar e ter filhos.”
E qual era o motivo?
“Não sei explicar, era para matar, mas na hora desistia. Tinha pensamentos para não fazer.”
Você acha que se identifica mais, na forma de ser, com a sua mãe ou com seu pai?
“Com meu pai, porque também sempre fui mais calado, tímido. Na escola eu tinha até vergonha de falar diante da turma, ou de fazer uma pergunta para a professora.”
Você foi uma criança e adolescente saudável?
“Fui sim. Mas eu tinha muitas infecções urinárias, porque eu tinha muita pele no pênis. Eu tinha que ter sido operado. Isso me atrapalhou muito.”
Atrapalhou de que forma, Francisco?
“Atrapalhou minha vida, pois eu tinha bastante dor quando eu tinha relações sexuais.”
Dentro da prisão, chegou a ter infecções urinárias?
“Sim, várias. Mas uma vez eu fiz um propósito com Deus quando fiquei com infecção urinária, senti dores, foi difícil. Não quis ir para a enfermaria, e em 30 dias fiquei curado, e nunca mais tive nenhuma, por causa do meu propósito com Deus.”
Como você passa seus dias aqui?
“Sempre a meditar na palavra, sempre em oração. Até quando vou caminhar estou meditando na palavra. Aprendo trabalhos manuais, mas no momento eu não trabalho aqui dentro. Já trabalhei.”
Você foi batizado ao ser convertido?
“Fui batizado por evangélicos, na Penitenciária de Itaí/SP”
Se você tivesse filhos, que mensagem deixaria a eles?
“Seguir o caminho da palavra. Não é religião, seguir a palavra do Deus de Abraão”
O resultado da longa imersão de Simone Bravo na mente do criminoso é o livro “Maníaco do Parque – A Loucura Lúcida”, lançado pela Editora Bretas.
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