Alcoolismo de Helena Roitman: especialista explica doença crônica de personagem
Dois eventos traumáticos levaram a herdeira de Odete à dependência

Heleninha Roitman (Paolla Oliveira) frequentemente se põe em perigo devido ao vício com o álcool. A maternidade autoritária de Odete não ajuda nada a filha que tem dependência emocional, além do problema com bebida. Pensando no contexto geral da doença crônica e do ambiente em que a personagem vive, o portal LeoDias entrevistou o médico psiquiatra Dr. Anibal Okamoto Jr.
Tudo indica que Helena desencadeou o vício após se sentir culpada pela morte do irmão Leonardo, porque ela estava bêbada quando provocou o acidente. Outro ponto foi o filho Tiago (Pedro Waddington), também vítima de acidente causado pela mãe. Segundo o especialista, traumas não causam diretamente o problema com álcool, mas aumentam a chance de que aconteça.
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“Hoje são conhecidos como experiências adversas da infância. Apesar de parecer algo raro, são muito comuns, afetando cerca de uma a cada cinco pessoas. O abuso sexual é o trauma mais conhecido, mas circunstâncias como sofrer agressão física – apanhar muito dos pais, ser ofendido, insultado, negligenciado ou abandonado e conviver em ambiente familiar disfuncional também são muito prejudiciais.”
Conforme ele, o efeito cumulativo de tudo citado acima pode aumentar a chance de desenvolver um problema com uso de bebida em até 7 vezes. Não existe uma causa única para o problema com o álcool. Vários fatores aumentam essa probabilidade, como a genética, características psicológicas, familiares, sociais e culturais.
Celina Junqueira (Malu Galli) é praticamente a mãe que Heleninha nunca teve. A ama e protege como se realmente fosse a sua responsável e até se intrometia quando ela era casada com Ivan Meireles, assim como Odete, querendo que ele não se separasse da sobrinha. A superproteção é um comportamento ambíguo, como explicou o profissional de saúde: “Se por um lado parece ser um cuidado, também pode ser uma forma sutil de controlar o outro”.
“A Odete, mãe da Helena, é fria e manipuladora, tendo um estilo de exercer a maternidade conhecido como autoritário. Além disso, tem traços de personalidade considerados narcisistas. Características do narcisismo e comportamento autoritário dos pais são exigir obediência absoluta, usar o filho como extensão do próprio ego — o valorizando só quando ele cumpre com expectativas, pouca empatia pelas necessidades emocionais da criança, punir emocionalmente (culpa, humilhação e silêncio), desvalorizar e comparar com outras pessoas”, continuou.
Na visão dele, pessoas criadas por pais com o perfil citado costumam ter mais problemas com a autoimagem, desenvolver dependência emocional (como é o caso da personagem), medo de autonomia, sofrer de ansiedade crônica e dificuldade de estabelecer limites. Também tendem a se relacionar com parceiros abusivos.
Papel da família no tratamento
A família é fundamental no tratamento do Transtorno por Uso de Álcool, até porque frequentemente também está adoecida. Atitudes positivas da família incluem ajudar a prevenir as recaídas, fornecer apoio emocional, estimular a começar e continuar o tratamento e até a reduzir fatores de risco que podem ter contribuído para o desenvolvimento do problema, afirmou o médico.
“É importante que a rede de suporte não use o problema da pessoa como uma forma de exercer poder em conflitos. Por exemplo, em caso de alguma discordância, falar que a pessoa fez isso porque bebe, fazer comparações com pessoas que não consomem bebida, ou ficar mencionando o assunto em momentos de fragilidade. Outro ponto é evitar estimular ou facilitar o uso, por exemplo, bebendo na frente da pessoa, deixando bebidas em locais de fácil acesso ou agir de forma permissiva”, declarou.
Em um dos episódios da novela da Globo, exibiu Tiago trocando o uísque por chá-mate e Helena foi surpreendida com a substituição.
Opções de tratamento
O tratamento pode ser feito com a internação em comunidades terapêuticas e clínicas psiquiátricas, ou em regime ambulatorial, realizando as consultas e depois voltando para casa. O tempo de internação varia muito. Em comunidades terapêuticas, costuma ser mais longo, às vezes durando 12 meses, por exemplo. Uma opção não exclui a outra. A pessoa em acompanhamento ambulatorial pode ser internada, caso seja necessário, elucidou o psiquiatra.
Heleninha fica quatro meses internada em uma clínica, mas logo tem recaída, ao voltar para casa de Celina, onde mora. “E quem foi internado tem possibilidade de recuperação muito maior caso continue o tratamento após receber alta. O ideal é que seja feito com equipe multidisciplinar, incluindo psiquiatra, psicólogo e outros profissionais de saúde. Também deve ser individualizado para as características e necessidades de cada paciente. Além dos atendimentos individuais, a participação em grupos terapêuticos ou de apoio mútuo, como o Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, é um recurso valioso”, aconselhou.
Alcoolismo tem cura?
Não, segundo o especialista. Esse é um adoecimento considerado crônico. O tratamento em geral busca ajudar a pessoa a interromper o uso e ficar abstinente. Mas também melhorar a qualidade de vida e ajudar a recuperar as perdas familiares, profissionais e sociais.
No folhetim, os personagens usam o termo alcoolista e não alcoólatra, isso tem uma explicação. “O termo alcoólatra é antigo e carrega um estigma muito forte. Vem aquela imagem da pessoa embriagada, morando embaixo da ponte, abandonada e sem perspectiva. O termo alcoolista, é mais recente e busca retirar um pouco essa conotação negativa. Entretanto, hoje se prefere usar a expressão “Transtorno por uso de Álcool (TUA)”. Isso porque o uso excessivo de bebida pode causar muitos problemas antes de ser identificado. E o ideal é buscar o tratamento antes que se torne algo grave”, falou ele.
Sinais comuns de que uma pessoa pode ter Transtorno por uso de Álcool (TUA):
- Dificuldade para diminuir ou controlar o uso – não conseguir passar o final de semana sem sair, por exemplo;
- Beber mais do que tinha planejado – decidir tomar duas cervejas e acabar tomando 8 latas;
- Passar muito tempo bebendo ou se recuperando da ressaca – bebe o sábado todo e o domingo com mal-estar, sem conseguir fazer outra coisa;
- Sentir muita vontade de beber (fissura);
- Não conseguir fazer alguma coisa que precisava no trabalho, em casa ou na família devido à bebida – faltar o serviço na segunda-feira, perder eventos importantes dos filhos;
- Parar de fazer coisas que gostava para ficar bebendo – deixar de jogar bola, ir à igreja ou visitar familiares só para beber;
- Beber mesmo quando isso causa problemas sociais – se embriagar e passar vergonha na festa da firma ou brigar no almoço de domingo na casa da mãe/sogra.
- Continuar usando mesmo com um problema de saúde que piora com o álcool, por exemplo, diabetes, pressão alta, insônia, etc. Ou seja, não precisa ser um “alcoólatra” para que a bebida tenha impactos muito negativos. Esses pontos são importantes porque alertam a pessoa a procurar acompanhamento antes que as perdas destruam a sua vida.
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