Dia dos Pais: especialista alerta sobre impactos da ausência paterna nas crianças
Em entrevista ao portal LeoDias, a neurocientista Telma Abrahão, especialista em desenvolvimento infantil, reforça que paternidade vai além do sustento e exige afeto, escuta e participação ativa

O Dia dos Pais, comemorado neste domingo (10/8), vai além das homenagens. A data é também um convite à reflexão sobre o papel fundamental da paternidade na formação emocional, social e afetiva dos filhos. Mais do que prover, ser pai é estar presente — com amor, escuta, cuidado e responsabilidade. Celebrar esse dia é valorizar vínculos saudáveis, reforçar a importância da presença ativa e consciente dos pais e reconhecer o impacto transformador que essa relação tem na vida das crianças e da sociedade como um todo.
Em entrevista ao portal LeoDias, a neurocientista e especialista em desenvolvimento infantil Telma Abrahão propõe um olhar mais profundo sobre o verdadeiro papel paterno à luz da educação neuroconsciente. Para ela, ser pai vai muito além do instinto de prover ou proteger. Trata-se de ser uma presença reguladora, uma referência emocional e um espelho seguro para os filhos.
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“É compreender que o cérebro de uma criança em desenvolvimento não precisa de perfeição, mas de conexão”, afirma a especialista. De acordo com ela, pais que se dispõem a romper ciclos e a aprender o que nunca lhes foi ensinado, como escutar com empatia, acolher o choro e conter a raiva com respeito, constroem relações familiares mais saudáveis e afetuosas.
Telma ressalta que a paternidade consciente não exige um desempenho impecável, mas sim compromisso com o crescimento mútuo. “Pai não é quem nunca erra, é quem se compromete a crescer junto com o filho”, destaca.
Ela explica que educar uma criança é um processo de cocriação emocional, no qual pequenos gestos têm grande impacto: “Um ‘não’ firme com afeto pode ser mais amoroso do que um ‘sim’ automático. O olhar, o tom de voz e o gesto influenciam diretamente o cérebro e o coração de uma criança”.
“A ausência do pai é interpretada pelo sistema nervoso como uma ameaça à segurança”
A ausência do pai — seja física, emocional ou afetiva — pode causar efeitos profundos e duradouros no desenvolvimento infantil. Segundo Telma Abrahão, estudos da neurociência e da psicologia do apego mostram que a presença de um adulto emocionalmente disponível é essencial para a construção de um cérebro saudável e de relações seguras.
“Quando essa referência paterna não existe, a criança pode vivenciar sentimentos de abandono, rejeição e insegurança. Sem acolhimento e entendimento, essas experiências tendem a impactar negativamente sua autoestima, identidade e capacidade de se relacionar no futuro”, enfatiza.
Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está em intensa formação e depende da relação com os cuidadores para desenvolver suas habilidades emocionais, cognitivas e sociais, informa a especialista. “A ausência do pai é interpretada pelo sistema nervoso como uma ameaça à segurança, ativando de forma crônica respostas de estresse que prejudicam a autorregulação emocional e o equilíbrio neurobiológico. Como resultado, muitas dessas crianças apresentam comportamentos explosivos, impulsividade, dificuldades de concentração, transtornos de ansiedade ou comportamentos antissociais, não por ‘má educação’, mas por falta de recursos emocionais internos para lidar com suas emoções”, destaca.
“A falta dessa referência pode afetar a construção da identidade”
Ainda de acordo com a neurocientista, essa ausência também interfere na formação dos vínculos afetivos. Crianças que crescem sem uma figura paterna segura tendem a desenvolver padrões de apego inseguros, o que pode refletir, na vida adulta, em relacionamentos instáveis, medo de abandono, dificuldades em confiar nos outros ou, ao contrário, comportamentos de evitação emocional.
“Além disso, a falta dessa referência pode afetar a construção da identidade, especialmente entre meninos, que buscam no pai um modelo masculino para se espelhar. Sem esse espelho, surgem sentimentos de inadequação, confusão interna e uma necessidade constante de validação externa”, pontua.
“Do ponto de vista social e familiar, a ausência paterna sobrecarrega o cuidador que permanece, geralmente a mãe, que precisa dar conta de todas as demandas afetivas, financeiras e estruturais da criança. Essa sobrecarga, muitas vezes invisível, gera um ambiente relacional fragilizado, no qual a criança pode vivenciar negligência emocional mesmo quando existe amor e intenção de acerto”, acrescenta Telma.
A especialista salienta que, no entanto, a ciência mostra que a ausência do pai não precisa ser sentença. “O cérebro é plástico. E vínculos seguros ao longo da vida, com outros adultos significativos, podem reparar muitas das feridas deixadas pela ausência paterna. Com apoio, consciência e presença afetiva, é possível construir novos caminhos emocionais e reescrever histórias”, informa.
Neste Dia dos Pais, Telma deixa uma mensagem de incentivo para que mais homens se permitam acessar sua vulnerabilidade, reconhecer suas próprias feridas emocionais e buscar ajuda. “Todo pai curado é um pai mais inteiro. E um pai inteiro tem muito mais chance de criar filhos emocionalmente saudáveis”, conclui.
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