Médico explica caso raro de jovem com puberdade aos 4 anos e menopausa aos 16
Em entrevista ao portal LeoDias, o endocrinologista Wandyk Allison detalha a condição rara enfrentada pela estudante maranhense Julia Micaelly ainda na infância

Com o objetivo de alertar as pessoas sobre o grave problema que enfrentou ainda muito pequena, a estudante Julia Micaelly Ribeiro Carvalho revelou que a puberdade chegou em sua vida quando ela tinha apenas 4 anos e a menopausa, aos 16. Hoje, com 20, a jovem maranhense luta para superar ainda mais ou seus traumas e projeta a realização do sonho de ser médica. Ela também não descarta a possibilidade de engravidar futuramente por meio da fertilização in vitro, como confessou ao portal LeoDias.
Para falar sobre o caso de Julia, conversamos com o médico integrativo Wandyk Allison, pós-graduado em endocrinologia, metabologia, fisiologia e nutrição clínica. Ele informa que a puberdade é um processo natural de maturação sexual e hormonal que, em meninas, costuma começar entre os 8 e 13 anos: “Porém, quando os sinais surgem antes dos 8 anos, chamamos de puberdade precoce. No caso de Julia, esse processo começou aos 4 anos, uma condição conhecida como puberdade precoce central (PPC)”, diz.
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De acordo com ele, as possíveis causas da puberdade precoce central são: a ativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas; tumores ou cistos no sistema nervoso central; alterações genéticas (como mutações no gene MKRN3); e condições idiopáticas (sem causa aparente).
“Essa ativação precoce faz com que o corpo produza hormônios sexuais, principalmente estrógeno, resultando em desenvolvimento mamário, crescimento rápido, maturação óssea acelerada e, muitas vezes, menarca precoce (primeira menstruação)”, pontua o especialista.
Menopausa precoce
Ainda segundo o endocrinologista, a menopausa precoce ocorre quando há falência ovariana antes dos 40 anos. “Quando ela acontece por necessidade de cirurgia para retirada dos ovários (ooforectomia), chamamos de menopausa cirúrgica. No caso de Julia, a menopausa aos 16 anos foi causada por um procedimento cirúrgico, provavelmente indicado devido a complicações hormonais, cistos ovarianos, tumores ou falência ovariana prematura associada à puberdade precoce”, ressalta.
O médico elenca as consequências da menopausa precoce: ondas de calor, secura vaginal, insônia, alterações de humor; risco aumentado de osteoporose, doenças cardiovasculares e infertilidade; e impactos na saúde mental, autoestima e identidade feminina.
“Passar pelas transformações hormonais da puberdade ainda na infância é algo que o corpo e a mente não estão preparados para lidar. Muitas crianças com puberdade precoce sofrem bullying, isolamento e dificuldades escolares, além da disparidade emocional entre o corpo biologicamente desenvolvido e a mente ainda infantil”, fala Wandyk Allison.
“Da mesma forma, a menopausa aos 16 representa uma quebra violenta na expectativa de vida reprodutiva, afetando a fertilidade e exigindo o uso precoce de terapia hormonal de reposição (THR) para suprir a falta de estrogênio e prevenir riscos à saúde óssea e cardiovascular”, completa.
Dados científicos relevantes:
- A incidência de puberdade precoce central em meninas varia entre 1:5.000 a 1:10.000.
- Cerca de 1% das mulheres podem apresentar falência ovariana prematura antes dos 40 anos.
- O impacto psicológico de ambas as condições exige acompanhamento psicológico e multidisciplinar.
- A THR (terapia de reposição hormonal) pode ser indicada desde a adolescência até a idade natural da menopausa (cerca de 50 anos), simulando o funcionamento hormonal saudável.
“Casos como o de Julia Micaelly nos ensinam que o corpo humano, por vezes, desafia as cronologias naturais. Mas também nos mostram o poder da medicina quando aliada à escuta empática e ao desejo de transformar sofrimento em propósito. Que mais Julias encontrem espaço para contar suas histórias e inspirar mudanças no cuidado à saúde da mulher”, explica o médico.
O que é a Falência Ovariana Prematura (FOP)?
A falência ovariana prematura é uma condição caracterizada pela perda da função normal dos ovários antes dos 40 anos de idade. Ela resulta em baixos níveis de estrogênio e falência da ovulação, levando à infertilidade, irregularidade menstrual e sintomas típicos de menopausa.
“É diferente da menopausa natural, que ocorre geralmente entre 45 e 55 anos. Na FOP, o processo é abrupto ou precoce, e pode ser transitório em alguns casos (com retomada intermitente da função ovariana). Acomete cerca de 1% das mulheres com menos de 40 anos. Pode ocorrer até em adolescentes e jovens, sendo confundida com outras causas de amenorreia secundária”, informa o endocrinologista.
“A FOP pode ser idiopática, sem causa aparente, mas também pode estar associada a fatores genéticos, mutações nos genes FOXL2, FMR1 (pré-mutação do X frágil), BMP15, GDF9; síndrome de Turner (monossomia do cromossomo X); e Disgenesia gonadal”, finaliza o especialista.
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