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Opinião: Remake de “Vale Tudo” tropeça na jornada de Raquel e repete padrão racista

Em "Amor de Mãe", Manuela Dias usou o mesmo recurso: Vitória, personagem de Taís Araujo, era uma advogada bem-sucedida que teve sua vida virada do avesso, caiu na miséria e passou a costurar

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*As informações contidas neste texto são de responsabilidade dos colunistas e não expressam necessariamente a opinião do portal LeoDias.

          Desde a estreia do remake de “Vale Tudo”, escrito por Manuela Dias, não faltam queixas nas redes sociais e fóruns de discussão. Parte dessas críticas pode até ser atribuída ao saudosismo de quem torce o nariz para qualquer reedição de clássicos. No entanto, é inegável que há pontos legítimos que merecem reflexão. Não apenas sobre essa novela, mas sobre o modo como a teledramaturgia brasileira insiste em repetir velhos erros, especialmente no tratamento dado a protagonistas negras.

          A maior polêmica gira em torno da condução da personagem Raquel, agora interpretada por Taís Araujo. Na versão original, de 1988, Raquel, vivida por Regina Duarte, ascende socialmente com muito esforço e se mantém no topo, enfrentando a vilã Odete Roitman (Beatriz Segall na primeira versão e Débora Bloch atualmente) de igual para igual, sem recuar ou ter sua trajetória invalidada. Já na versão atual, o remake opta por um caminho questionável: Raquel tem seu progresso anulado e é lançada de volta ao ponto de partida, precisando recomeçar do zero.

          A escolha narrativa de Manuela Dias não é apenas frustrante do ponto de vista do desenvolvimento da personagem, ela também reverbera um simbolismo problemático: a ideia de que mulheres negras precisam provar seu valor duas vezes mais para merecer estabilidade e sucesso. Quando se apaga o progresso conquistado por uma protagonista negra para que ela “aprenda tudo de novo”, a trama flerta perigosamente com uma lógica racista que insiste em associar o sofrimento à identidade negra como algo inevitável e até necessário para “validar” conquistas.

          Mais alarmante ainda é o fato de esse não ser um caso isolado. Em sua novela anterior, “Amor de Mãe”, a mesma autora usou o mesmo recurso com a mesma atriz. Vitória, personagem de Taís, era uma advogada bem-sucedida e uma das protagonistas da história. Ainda assim, teve sua vida virada do avesso, caiu na miséria e passou a costurar para sobreviver. Coincidência? Talvez. Mas quando o padrão se repete, é impossível ignorar a estrutura por trás.

          Sem “mimimi” ou vitimismo — como alguns costumam rotular qualquer crítica a esse tipo de representação —, o debate aqui é sobre escolhas narrativas e suas consequências. Há inúmeras formas de criar tensão dramática e desenvolver personagens fortes sem, necessariamente, precarizar suas vidas ou torná-las símbolos de sofrimento eterno.

          A falta de roteiristas negros nas salas de criação ajuda a explicar esse tipo de decisão. Quando as vozes por trás das histórias seguem sendo majoritariamente brancas, ainda que bem-intencionadas, falta repertório e sensibilidade para entender as nuances da vivência negra. Diversificar o elenco é importante, mas não basta. É preciso também diversificar quem escreve, dirige e decide os rumos dessas histórias.

          Exceções existem — como Claudia Souto, que conseguiu criar com sucesso protagonistas negras em “Volta por Cima” e “Cara & Coragem”. Mas são raras. E o problema continua sendo estrutural: protagonistas negras ainda são usadas como ícones de superação, mas quase nunca como figuras de poder estável, de autoridade ou mesmo de felicidade plena.

          O remake de “Vale Tudo” perdeu uma oportunidade de fazer história — novamente. E o mais lamentável é perceber que, mesmo com tantos avanços sociais e com um elenco mais diverso, a narrativa segue presa a estereótipos do passado.

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