Padre de “Guerreiros do Sol” interpreta romance proibido: “O pecado mexe com a gente”
Ator Rodrigo Lelis interpreta Padre Bita, personagem entre o conflito armado e um amor proibido à batina

No streaming, a novela “Guerreiros do Sol” ganha o coração dos noveleiros com uma obra intensa e dramática sobre as disputas do cangaço no Nordeste. Neste conflito, de balas de chumbo e manobras políticas, o ator Rodrigo Lelis conta ao portal LeoDias como foi interpretar padre Bida, um personagem que precisa lidar com uma guerra na família, enquanto trava uma disputa entre o coração e a própria fé.
Rodrigo, que já foi Caetano Veloso nas telonas em “Meu Nome Não É Gal”, interpreta Bida, irmão do protagonista e do vilão da trama, que acaba se apaixonando por Valiana, um amor proibido que desafia todas as normas daquele Brasil ainda em formação.
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A relação do casal ainda se torna motivo para atrair a atenção do vilão: conforme vimos nos últimos capítulos, Valiana espera um filho de Bida, e Arduíno (Irandhir Santos) vai tentar separar o casal para roubar a criança.
Enquanto a novela se aproxima de um desfecho explosivo, o portal LeoDias conversa com Rodrigo Lelis, que compartilhou como foi interpretar um personagem tão complexo ao lado de duas grandes referências em sua carreira.
Confira a entrevista com Rodrigo Lelis:
Em Guerreiros do Sol, você interpreta um personagem curioso na trama, que acaba sendo um ponto de paz entre os conflitos de Josué (Thomás Aquino) e Arduíno (Irandhir Santos). Como foi a experiência de assumir esse trabalho e interpretar ao lado desses dois atores?
“Thomás e Irandhir são duas grandes referências na minha profissão. Eu, como espectador, sempre admirei muito o trabalho dos dois. Já assisti praticamente tudo que eles fizeram, principalmente no cinema, que é uma das minhas maiores paixões. Amo teatro também, uma outra paixão. Gosto de ver televisão de vez em quando, mas no audiovisual, o cinema, seja curta, média ou longa-metragem, é o que mais me encanta, é o que eu mais acompanho. E os dois têm uma trajetória incrível nesse meio. Ter a oportunidade de trabalhar com eles foi, pra mim, uma afirmação da minha própria trajetória. Estar ao lado deles me fez sentir que toda a caminhada que trilhei nesses 11 anos de carreira estava, de alguma forma, sendo reconhecida. Como se eu estivesse colhendo os frutos de tudo que plantei até aqui. Aproveitei cada momento, cada cena, cada conversa. Estar com eles foi também uma troca intensa, aprendi demais. E, ao mesmo tempo, senti que minhas ideias, minhas provocações e pensamentos também foram ouvidos e acolhidos. Eles são artistas incríveis e, acima de tudo, pessoas lindas, generosas, maravilhosas de trabalhar. E, para completar, ter Marcélia Cartaxo como nossa mãe foi a realização de um sonho. Ela é uma verdadeira diva da dramaturgia brasileira. Fazer parte dessa história tão bonita, escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg, e dirigida por Rogério Gomes, foi realmente um momento muito especial na minha carreira.”
O romance de Padre Bida e Valiana repercutiu nas redes sociais, e nos comentários temos várias brincadeiras de pessoas que ou se sentem atraídas pela batina ou que reconhecem o tema de outras obras – como “Hilda Furacão“, com Rodrigo Santoro, e “Fleabag”. Como você encara essa repercussão?
“Ah, isso já é representado há muito tempo, né? Inclusive, uma das minhas principais referências para esse padre foi o que o Paulo José fez no filme brasileiro ‘O Padre e a Moça’, baseado num poema homônimo do Carlos Drummond de Andrade. Essa ideia do “proibido” sempre chamou atenção, e justamente por isso muita gente evita lidar com ela. Mas o fato de algumas pessoas ultrapassarem esse limite desperta muito interesse. De formas positivas e negativas, claro. Já vimos muitos desfechos diferentes para histórias entre padres e moças. Eu, particularmente, já conheci algumas. Algumas acabam em tristeza, outras em finais felizes. Mas esse tipo de narrativa atrai. A gente tem ‘O Padre e a Moça’, ‘Hilda Furacão’, ‘Fleabag’, que eu adoro especialmente a segunda temporada, e “O Crime do Padre Amaro”, que tem um final bem mais trágico e é uma crítica direta aos padres e à Igreja. Enfim, são muitas histórias assim, e elas continuam atraindo o público, porque a ideia do pecado, do proibido, mexe com a gente. Quando alguém rompe essa barreira, isso afeta até quem prefere não cruzá-la. De alguma forma, isso causa um impacto emocional, uma curiosidade. E quem rompe essa barreira acaba despertando fascínio. Acho que isso é algo muito humano. Quando a gente vê uma placa dizendo “proibido”, a curiosidade é imediata. Por exemplo: se estou numa trilha e encontro uma placa dizendo “a partir daqui não pode mais passar”, minha primeira vontade é justamente descobrir o que tem depois da placa. E isso diz muito sobre a natureza humana. É por isso que eu acho que essas histórias atraem tanto.”
Como foi viver Caetano Veloso nas telonas? E como foi a interação com o elenco?
“Viver Caetano no cinema, antes de tudo, foi um privilégio. Ele é uma figura emblemática, um dos maiores poetas que o Brasil já teve, na minha opinião. Um poeta que transforma poesia em música, e faz isso como ninguém. É algo de uma beleza imensa. Interpretá-lo no filme “Meu Nome é Gal” foi também uma grande oportunidade de ser desafiado como ator. Caetano é muito conhecido, tem muitas camadas, e por isso mesmo foi um processo delicado. Mas desde o início eu decidi que não queria fazer uma imitação. Quis me aproximar dele de outra forma, mais orgânica. Assisti a muitos vídeos, ouvi músicas, observei os gestos, os olhares, os movimentos. E, aos poucos, fui trazendo essa figura tão potente para perto de mim. Quanto mais eu o estudava, mais ele se aproximava, mais fazia sentido no meu corpo. Fazer Caetano no cinema, ainda por cima num filme sobre Gal, que, pra mim, é a grande voz do Brasil, foi uma experiência única. Uma honra. Foi também uma chance de o público conhecer mais do meu trabalho. Quando Dandara Ferreira, uma das diretoras do filme, me disse que, ao me conhecer, viu algo de Caetano em mim, eu jamais imaginava que isso pudesse se transformar em um papel.”
E pensa em interpretar o músico novamente nos cinemas?
“Sobre interpretá-lo novamente: até agora, nunca surgiu outra oportunidade. Mas se acontecer, será uma honra imensa. E eu me dedicaria com a mesma entrega e respeito de antes.”
Em breve você volta aos palcos com um monólogo. Quais as expectativas para este próximo trabalho?
“No momento, meu foco é fazer com que o espetáculo “Sr. Oculto”, meu monólogo, dirigido por Márcio Meirelles e escrito por Mônica Santana, ganhe mais espaço. A peça teve duas indicações ao Prêmio Bahia Aplaude e estamos batalhando para que ele possa circular pelo Brasil e, por que não, pelo mundo. “Sr. Oculto” é uma transcriação de “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson, uma novela clássica do século XIX que fala de um médico que se distancia da sociedade enquanto sua criação monstruosa ganha visibilidade. A peça provoca reflexões sobre o que está oculto dentro de cada um de nós, e sobre essa dualidade entre o bem e o mal. Acredito muito na força desse espetáculo. Ele tem um potencial enorme de alcançar outros públicos, em outras cidades e países. Até agora, só em Salvador, já tivemos quase 2.000 espectadores, o que é muito gratificante. Estou feliz demais com o que já construímos e animado com o que ainda está por vir.”
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