Da superação ao bem-estar: por que corridas atraem tantos brasileiros?
"Eu não que não aguentava correr 800 metros e consegui 42 quilômetros", disse um participante da Maratona do Rio

Seja nos parques mais conhecidos da cidade ou no asfalto de bairro, é bem provável que você tenha notado um alto número de pessoas correndo ou caminhando nas ruas. O fenômeno é comum inclusive aos finais de semana. Por outro lado, há àqueles que não trocam o conforto da cama por alguns quilômetros ao ar livre por nada. É desse lado que geralmente vem a dúvida: afinal, por que o esporte se tornou tão popular?
Uma explicação plausível, ainda que não seja embasada cientificamente, é a facilidade em torno dele. Basta um par de tênis, uma rua qualquer e boas doses de disposição. Ao contrário de outras modalidades, que requerem um investimento inicial com equipamentos e vestuário.
Veja as fotos
Ao mesmo tempo, há uma motivação ainda mais nobre: o cuidado com saúde, que é o caso de Allan Vieira, de 25 anos. O jovem trocou uma rotina sedentária causada pela pandemia para praticar corrida nas ruas — ainda que tenham recomeçado por uma simples caminhada. Na verdade, a motivação inicial foi a perda de peso, seguida por uma aposta com amigos de trabalho.
“Eu era considerado ‘um cara magrinho’, e mudar isso foi estranho. Então, uma aposta para ver quem perdia mais peso em 30 dias foi o que me fez começar a correr diariamente. Ganhei a aposta, só que ai eu comecei a gostar muito de correr. Parou de ser pela aposta, e passei a incentivar esse mesmo pessoal que estava apostando comigo”, relembrou.
Avner Melo Teixeira, médico do Exercício e do Esporte, responsável pelo ambulatório de corrida do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo, celebra a popularização da modalidade, independente de suas motivações: “Ela têm o potencial de trazer e engajar o indivíduo para o exercício, como se fosse um start para a prática regular, para que aquilo se torne um hábito”.
O início caminhada e o alto rendimento
Para o analista de marketing, o início da prática representou uma novidade na rotina. A partir daquele momento, a caminhada passou a ser parte fundamental de seu dia, tal como trabalhar e se alimentar. Com o tempo, surgiu o desejo de dar um passo (neste caso, talvez alguns mais) e deixar de ser um mero praticante para buscar um rendimento melhor.
Tudo isso feito de maneira orgânica, como o próprio destaca: “Praticava com tanto volume, às vezes até cinco vezes na semana, que eu acabava aumentando o meu ritmo, melhorando tempo e quilometragem”. Os melhores resultados vieram, seguidos de novas adições: “Sou uma pessoa um pouco competitiva e a corrida é um esporte individual, então você compete com você mesmo, né?”.
Apesar do lado benéfico, Avner destaca a necessidade do acompanhamento médico, principalmente nas fases iniciais, em que os médicos avaliam, principalmente:
- Fatores de risco;
- Sistema cardiovascular;
- Limitação funcional ou lesão crônica;
“Na primeira avaliação, eu tento entender qual é o objetivo desse paciente, qual é o nível de intensidade da atividade que ele está proposto do esporte que ele está engajado. Vimos casos recentes de morte súbita, que sempre chama muita atenção em eventos de corrida, por exemplos”.
Já sobre a progressão para maiores distâncias ou tempos menores, o médico reforça a individualidade do tema. De acordo com ele, tudo depende da adaptação do indivíduo ao novo estímulo. Mas, de forma geral, vale começar com estímulos leves. Ou seja, pessoas que estão iniciando devem começar com caminhadas antes de pensar em aumentar o ritmo.
“Depois, vale uma caminhada num passo um pouco mais apertado, por assim dizer, em intensidade um pouco maior, aos poucos introduzindo trotes intercalados e piques. A ideia é sempre fazer essa progressão, porque uma coisa que a gente identifica muito no ambulatório é que progressões muito rápidas podem gerar uma sobrecarga para o corpo e isso ser um risco para lesões”.
Os benefícios da modalidade
Para Alan, os benefícios iniciais da caminhada foram claros: a perda de peso — acompanhada por ter vencido a tal aposta com os amigos. No entanto, não é novidade que a prática oferece muitos pontos positivos. Com a evolução no ritmo, o preparo físico também recebeu um upgrade: “A corrida me ajuda muito a estar 100% preparado fisicamente. Não me cansar tanto nos treinos, aguentar a rotina pesada que eu tenho de sair cedo de casa e chegar tarde”.
Do ponto de vista mental, mais benefícios. Isso também incrementados pelo aspecto competitivo, como revela Alan, que participou da Maratona do Rio, em junho: “É uma auto satisfação, realização enorme quando você termina uma corrida. Eu não aguentava correr 800 metros e corri 42 quilômetros! Foi uma sensação que eu não consigo explicar”.
“Para mim, a corrida é como se fosse uma terapia. Você está estressado, corre; está triste, corre; está feliz, corre. Ela serve para qualquer modo da minha vida. Seja para aumentar a felicidade ou aliviar um pouco da tristeza, porque você termina por endorfinado, vendo paisagem, reunindo amigos”.
O médico do Exercício e do Esporte concorda com os benefícios, mas destaca que a prática esportiva deve ser acompanhada de outras maneiras para lidar com o problema: “Exercícios, como a corrida, tem impacto na saúde mental, ajuda muito com sintomas de ansiedade e até depressão, mas nunca de uma forma isolada. Então, o exercício não tem que ser a abordagem única e principal. Ee tem que ser entendido como uma terapia adjuvante, por assim dizer, em complemento à abordagem médica”.
Fique por dentro!
Para ficar por dentro de tudo sobre o universo dos famosos e do entretenimento siga @leodias no Instagram.
Agora também estamos no WhatsApp! Clique aqui e receba todas as notícias e conteúdos exclusivos em primeira mão.