Sintético causa mais lesões? Entenda o que levou Neymar e estrelas começarem campanha
Estudos sobre lesões, padrão "Europeu", competições FIFA e outros argumentos levantam debate sobre uso de grama sintética ou natural
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O mundo do futebol brasileiro viu o debate entre o uso de grama sintética ou grama natural voltar a ganhar força após uma campanha levantada por estrelas como Neymar, Thiago Silva, Gabigol, Philippe Coutinho e Lucas Moura defenderem o fim de gramados artificiais. Em contrapartida, clubes que se utilizam de gramas sintéticas, como Palmeiras e Botafogo, defenderam seus campos. O portal LeoDias foi atrás de especialistas em ortopedia e se debruçou sobre o regulamento da FIFA e todos os argumentos apresentados pelos dois lados para incrementar este debate.
Afinal, o gramado sintético causa mais lesões?
Segundo o médico ortopedista, especialista em traumatologia e medicina esportiva, Marco Aurélio Silvério Neves, ainda não há um consenso na literatura médica sobre o tema, uma vez que existem estudos que apontam para o aumento de lesões e estudos que não encontraram diferenças significativas se comparado com gramados naturais.
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“Alguns estudos indicam que gramados sintéticos podem aumentar o risco de certas lesões, principalmente no pé e tornozelo. Por exemplo, um estudo publicado no The American Journal of Sports Medicine mostrou um aumento de 16% nas lesões de extremidades inferiores em jogadores da NFL que atuavam em gramado sintético, especialmente as lesões sem contato [Mack et al., 2019]. Além disso, há evidências de um maior risco de ruptura do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) no futebol americano em gramado sintético, embora esse efeito não tenha sido observado no futebol [Balazs et al., 2015]. Por outro lado, outros estudos, como um realizado com jogadores da Premier League finlandesa, não encontraram diferença significativa no risco de lesões entre os dois tipos de superfície [Immonen et al., 2024]”, explicou o médico especialista.
No entanto, o médico foi claro quanto a gramados naturais mau-cuidados: eles podem ser mais prejudiciais que os sintéticos: “Um gramado natural irregular, com buracos, áreas secas ou muito encharcadas, pode aumentar o risco de torções, lesões ligamentares e quedas. Por outro lado, gramados sintéticos podem ter maior coeficiente de atrito, impactando a biomecânica dos movimentos, o que pode estar relacionado a um maior risco de lesões em algumas situações”.
Para o médico, o ideal é que os gramados, naturais ou sintéticos, tenham um padrão de qualidade pré-estabelecido: “O ideal seria que todos os campos de futebol, sejam naturais ou sintéticos, seguissem um padrão de qualidade uniforme, garantindo que a superfície ofereça segurança, amortecimento adequado e condições ideais para a prática do esporte”.
Em contrapartida, o fisioterapeuta Laudelino Risso, responsável pelas redes das clínicas Doutor Hérnia, aponta que a “mescla” entre gramados naturais e sintéticos pode provocar lesões, devido a falta de adaptação dos atletas.
“Houve sim um aumento de lesões quando a grama sintética foi incorporada, mas não acredito que seja por conta do gramado sintético em si, mas por conta do treinamento. Muitas vezes o atleta treina em campos naturais e outras vezes em sintéticos. Com isso, não há uma adaptação de chuteira e treinamento e o organismo do atleta não consegue se adaptar. Deveria haver uma unicidade para preparar o organismo para grama (…) A mescla dos gramados, bem como chuteiras, faz com que o atleta de alto nível não consiga remodelar suas memórias musculares e reacionais de forma adequada”, explicou.
O que diz a FIFA sobre gramados sintéticos? E o padrão “Europeu”?
Por mais polêmico que seja, a FIFA autoriza e certifica estádios com grama sintética. No entanto, clubes precisam passar por uma rígida legislação caso queiram implementar pisos artificiais em seus estádios. Para a instalação, a entidade máxima do futebol obriga que o gramado artificial passe por análise em laboratório a fim de checar durabilidade, qualidade do material e possíveis riscos a saúde dos atletas.
Clubes no Brasil que comportam grama sintética como o Botafogo, Palmeiras e Athletico Paranaense possuem autorização e certicação FIFA para poderem atuar nas condições. Os tipos de fibras autorizadas em gramados profissionais são de polietileno (PE) e/ou poliamida (PA).
No entanto, mesmo autorizando e certificando, a FIFA nunca utilizou estádios com grama sintética em jogos de Copa do Mundo ou de Mundiais de Clubes. Também é extremamente raro ver jogos de competições organizadas pela entidade máxima do futebol, como as eliminatórias para a Copa do Mundo, disputados em grama sintética.
Grandes ligas do futebol Europeu como a Premier League (Inglaterra); Serie A (Itália); La Liga (Espanha); e Bundesliga (Alemanha); também proíbem que seus clubes utilizem estádios com grama sintética.
E o calendário esportivo no meio disso tudo?
Em meio ao debate se o tipo ou qualidade de gramado afeta ou não a quantidade de lesões, a quantidade de partidas do futebol brasileiro e o impacto físico nos jogadores voltou ao centro do debate. Enquanto uns argumentam a necessidade de estabelecer um tipo e padrão de qualidade aos gramados do país, outros apontam que não adianta ter este debate enquanto a quantidade de partidas jogadas no Brasil não reduzirem.
Um levantamento feito pelo site SofaScore apontou que um ranking feito com as 40 equipes que mais diputaram partidas ao longo do ano de 2024, apontou que metade dos times com mais jogos são brasileiros. No ranking, as 19 primeiras equipes elencadas jogam a primeira divisão do Brasileirão.
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Ranking apontou que 20 dos 40 clubes que mais jogaram em 2024 são brasileiros / Reprodução: SofaScore
Há vários anos, jogadores e pessoas influentes no meio do futebol realçam o impacto do alto número de jogos no estado físico dos atletas. Para se ter uma ideia, a quantidade de partidas é tanta, que os clubes sequer conseguem dar férias adequadas para seus atletas.
Os 4 times grandes do Rio de Janeiro, por exemplo, estrearam seus times considerados no estadual de 2025 apenas no meio da fase classificatória da competição. O campeonato brasileiro foi encerrado apenas no dia 8 de dezembro de 2024. O estadual já começou no dia 11 de janeiro, pouco mais de um mês após do fim da temporada. Além disso, o Botafogo, que foi campeão da Libertadores, estendeu sua temporada até o dia 11 de dezembro, em meio a disputa da Copa Intercontinental de Clubes. Com o calendário apertado, os clubes não conseguiram tempo suficiente para realizar a tão necessária pré-temporada.
A temporada de 2025 promete ser ainda mais desgastante para Fluminense, Flamengo, Botafogo e Palmeiras, que além das disputas nos estaduais, Copa do Brasil, Brasileiro, competições sulamericanas, irão no meio do ano para os Estados Unidos para disputar o Mundial de Clubes.
Para o médico Marco Aurélio Silvério, a falta de descanso adequado e de preparação física, estão entre alguns dos motivos primordiais para o aumento de lesões em atletas nos últimos anos.
“O volume excessivo de jogos e a falta de tempo adequado de recuperação são fatores críticos no aumento de lesões no futebol. A sobrecarga física leva à fadiga muscular, que está diretamente relaciona a a lesões musculares e ligamentares.Estudos mostram que a redução do intervalo entre partidas aumenta o risco de lesões por fadiga, independentemente da superfície de jogo. Isso acontece porque músculos e articulações não têm tempo suficiente para se recuperar completamente, tornando o atleta mais vulnerável a lesões. Portanto, além da qualidade do gramado, a intensidade do calendário e a recuperação dos jogadores são fatores fundamentais para a prevenção de lesões”, conclui.
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