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A obscura indústria do K-pop: como ídolos coreanos são “fabricados” em rigoroso sistema

Membros de famosos grupos como BTS e Blackpink são submetidos a morarem em centros de treinamento ainda na infância

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          Atenção: a matéria a seguir traz relatos sensíveis e pode ocasionar gatilhos de depressão e crise de ansiedade. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo. Procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

          Não é segredo que o K-Pop (pop coreano) dos gêneros musicais mais famosos do mundo atualmente. Com movimentação de US$ 500 bilhões a 1,5 trilhão (mais de R$ 2,9 milhões a mais de R$ 8,5 trilhões) no mercado da música sul-coreana, o ambiente é grande e extremamente competitivo. Para se tornar um idol k-pop (ídolo, do inglês, assim chamados os ícones dos grupos) jovens são submetidos a não terem mais contato com suas famílias para morarem em centros de treinamento extremamente rigorosos, desde a infância e adolescência.

          O grupo Blackpink, composto por Rosé, Jennie, Lisa e Jisoo, expôs o que acontece nas chamadas academias, que são como campos de treinamento para jovens se tornarem um idol k-pop. Ainda muito novos, meninos e meninas se submetem a morar nesses locais sem nenhum ou pouco contato com o mundo exterior até alcançarem o sucesso – ou serem expulsos por não cumprirem as expectativas -. No documentário BlackPink: Light Up The Sky, da Netflix, as cantoras relataram passar por 14h de ensaios diários, com apenas uma folga a cada duas semanas.

          Veja as fotos

          Good Morning America/Reprodução
          Grupo BTSGood Morning America/Reprodução
          Reprodução/Divulgação
          Grupo BlackpinkReprodução/Divulgação
          Divulgação / SM Entertainment
          Seunghan do RiizeDivulgação / SM Entertainment

          A alimentação, sobretudo das meninas, é regrada com diferentes tipos de regimes rigorosos, extremos e até mesmo perigosos. Caso passem do peso esperado – elas sobem na balança todos os dias – ganham água ao invés de comida, que por si só já é limitada. Já foram relatadas ocasiões em que trainees comeram somente aquilo que cabia dentro de um copo descartável (dieta do copo de papel), ou só pepino, ou se submeteram a comer gelo caso sintam fome.

          A SM Entertainment, a principal empresa de gerenciamento de grupos k-pop e responsável por muitos desses centros de treinamento, foi a pioneira na “fabricação” dos idols. Segundo a estratégia deles, chamada de Tecnologia Cultural, as estrelas musicais podem ser fabricadas como se fabricassem um celular ou computador. Para eles, os talentos não nascem naturalmente, mas podem ser perfeitamente fabricados e construídos através dos rigorosos treinamentos que englobam canto, música, dança, idiomas, bom comportamento e trato com a imprensa.

          Os sete membros do grupo BTS, por exemplo, se gabavam de treinar de 12h a 15h por dia, desde que tinham 11 anos de idade e desde essa idade, os “criadores” do grupo já sabiam como eles iam parecer e como suas vozes iriam soar no futuro, graças a um software. Ou seja, o BTS está em uma “esteira de fábrica” há muito tempo.

          Caso consigam se formar para integrar um grupo de sucesso, uma outra espécie de condição muitas vezes sub-humana começa. Os contratos impedem que os membros namorem, expressem opiniões políticas (que não sejam as do patriotismo) ou saiam a qualquer lugar sem supervisão da empresa. Os grupos não podem se recusar a participarem de eventos e nem patrocinarem produtos. As condições de trabalho e salários – muitas vezes incompatíveis com o retorno financeiro do grupo para a empresa – também não podem ser expostos pelos membros.

          A conta de toda essa pressão deixou rastros que ilustram o quão obscura essa indústria pode ser. Em 2017, o integrante do grupo SHINee, Kim Jong-hyun, cometeu suicídio. O cantor havia falado abertamente sobre sua depressão e a angústia que sentia em relação à fama. Ele desejava acabar com os preconceitos sul-coreanos acerca da busca por ajuda psicológica, que é visto como um motivo de desonra familiar, que sugere fraqueza e falta de disciplina. Jong-huyn disse: “Diga que me saí bem”.

          Além de Jong-hyun, houve outros históricos de suicídio como os dele, como o da cantora Goo Hara e a integrante do extinto grupo de k-pop SM, f(x), Sulli. Goo sofria constantes ataques na internet após denunciar um ex-namorado, que fazia ameaças de expor um vídeo de relações sexuais dos dois. No apartamento da famosa, foi encontrado um bilhete que a polícia caracterizou como “extremamente pessimista sobre a vida”. Sulli tinha depressão e foi duramente cancelada após defender ideias feministas, que vão de encontro com alguns ideias sul-coreanos.

          Caso Seunghan

          Recentemente o portal LeoDias noticiou o polêmico caso do cantor Seunghan, integrante expulso do grupo RIIZE, pertencente a SM Entertainment. O motivo da sua saída do grupo foram fotos dele beijando a namorada. As imagens estavam em uma conta privada do cantor no Instagram, mas acabaram vazando e grande parte dos fãs se revoltou, acreditando que isso poderia manchar a imagem dos outros membros do grupo coreano.

          Seunghan chegou a se desculpar pelo “incidente”, algo que pode parecer tão trivial para a cultura ocidental, mas que acabou se tornando uma bola de neve, contudo outra controvérsia surgiu em novembro. Um vídeo dele fumando cigarro foi divulgado e, mesmo não cometendo um ato ilegal, isso também revoltou boa parte das fãs.

          É importante contextualizar que uma grande parte das fãs coreanas considera que fumar e até mesmo ter uma namorada (quando uma pessoa faz parte desses grupos de K-pop), são atitudes “inadequadas” para um ídolo. Assim, a repercussão negativa no país causou o afastamento do cantor por dez meses, com a justificativa de “ações controversas do passado”.

          Fãs do grupo fizeram um protesto um tanto polêmico em frente ao prédio da empresa e depositaram milhares de coroas de flores em frente ao prédio da SM, sinalizando “a morte” de Seunghan para elas. O cantor, diante das polêmicas, decidiu sair por conta própria do grupo, dias após seu retorno ser anunciado.

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