Escaneamento de íris e proteção de dados: Porta-voz explica projeto polêmico
Para esclarecer as dúvidas sobre o polêmico projeto que tem escaneado a íris da população em São Paulo, o portal LeoDias conversou com Rodrigo Tozzi, chefe de operações da empresa no Brasil
O projeto World, que visa criar uma identidade digital global por meio da captura da biometria ocular, tem gerado polêmica entre os brasileiros desde sua implementação em São Paulo. A iniciativa, da empresa Tools for Humanity, oferece criptoativos, que podem ser convertidos em dinheiro, em troca dos dados biométricos, mas a coleta de informações sensíveis, como a íris, tem levantado preocupações sobre os riscos e a segurança dos dados. Para esclarecer as dúvidas, o portal LeoDias conversou com Rodrigo Tozzi, chefe de operações da empresa no Brasil.
De acordo com Tozzi, o projeto World busca criar a maior rede de humanos, para que no futuro seja possível diferenciar os seres humanos de robôs na internet.
“A World é um protocolo que tem como missão criar a maior rede de humanos com inclusão financeira e com ferramentas para ajudar a humanidade a navegar e aproveitar essa era da inteligência artificial”, iniciou.
Veja as fotos
Leia Também
O chefe de operações também destacou a necessidade de diferenciar seres humanos de bots, que estão se tornando cada vez mais comuns na internet.
“Hoje, mais ou menos 50% do fluxo da internet já acontece por bots. Bots são robozinhos de computador, códigos de computador, que fazem ações repetitivas com automações. Como por exemplo, automações de atendimento virtual, dar like em alguns conteúdos, comentar também em conteúdos… Com o avanço da inteligência artificial, esses bots cada vez mais vão se comportar como humanos. E aí que a gente vai precisar de novas ferramentas para diferenciar humanos de robôs nessa nova internet da inteligência artificial. Por exemplo, num futuro não muito distante, você vai ter dúvidas se está falando com o Rodrigo Tozzi de carne e osso ou se eu sou uma inteligência artificial, se passando pelo Rodrigo Tozzi e a recíproca verdadeira. E é aí que entra a solução que está sendo desenvolvida pela World”, explicou Tozzi, revelando que o projeto é uma resposta a esse fenômeno crescente.
Mas porque o escaneamento da íris?
Quando falamos em sistemas de reconhecimento, a identificação pela íris é, sem dúvida, a mais segura em todo o mundo. Para se ter uma ideia, estudos mostram que o sistema de reconhecimento de voz apresenta um erro a cada 3 mil tentativas, enquanto os sistemas de impressões digitais cometem um erro a cada 10 mil tentativas. Por outro lado, o reconhecimento pela íris tem uma taxa de erro impressionante de apenas 1 a cada 1,2 milhão de tentativas.
Dentre as muitas questões levantadas, a escolha da empresa pelo escaneamento da íris como forma principal de verificação tem gerado bastante curiosidade. Tozzi explicou por que essa opção foi escolhida em vez de outras alternativas biométricas, como a digital, facial, palmar, entre outros.
“Existem várias formas de fazer uma avaliação biométrica do corpo humano. A digital é uma delas, a palma da mão, o próprio DNA é uma outra, porém olhando para um projeto como esse, de escala global, que a ambição é ofertar, é criar uma ferramenta para toda a humanidade, o protocolo precisava encontrar uma biometria que fosse poderosa suficiente para comportar bilhões de pessoas. Então, por exemplo, a digital é uma ótima biometria, mas ela, a cada determinada quantidade de milhões de pessoas, ela se duplica, ou seja, tem uma pessoa com a mesma digital da outra. Além da digital, ela é alterada ao longo da vida da pessoa ou com algum produto químico, você também pode alterar. O DNA, por exemplo, é muito bom, só que ele é invasivo e muito caro, não é simples de fazer. Já a íris é uma que ela é a mais escalável e a mais acessível para se criar um projeto nessa escala”, esclareceu.
Para onde vão os dados coletados?
Entre os pontos mais questionados pela população está o fato da falta transparência do projeto sobre o uso dos dados coletados. Ao portal LeoDias, Rodrigo Tozzi garantiu que todos os dados coletados são criptografados e que a World não armazena informações pessoais dos usuários.
“Os dados, são realmente de propriedade do usuário. Quando o usuário agenda um horário e um dia para fazer a sua prova de humanidade, a sua verificação, esse usuário vai até o centro de verificação e lá tem a OrB. A OrB é aquele dispositivo esférico, prateado, que nada mais é do que uma câmera digital de altíssima definição. Nesse momento, o que essa OrB faz? Ela tira uma foto do rosto do usuário e duas fotos em detalhes dos olhos do usuário. Com essas três fotos, a OrB localmente processa essa verificação de humanidade fazendo duas coisas. Verificando se é um humano de verdade e se esse humano é único, se ele nunca se verificou anteriormente. E isso faz, obviamente, pela biometria da íris”, explicou.
Tozzi ainda explica o que acontece após o processo de verificação. Segundo ele, as imagens são criptografadas e enviadas para o telefone celular do usuário, enquanto a OrB apaga permanentemente todos os dados.
“Após essa verificação, todos esses dados que a OrB utilizou para fazer a verificação, eles são criptografados, ou seja, eles são fechados dentro de um pacote de segurança e isso é enviado para o telefone celular do usuário”, continuou.
Ainda em entrevista, o porta-voz do projeto esclarece que a empresa adota uma abordagem de segurança rigorosa, garantindo que os dados sejam usados exclusivamente para a verificação da humanidade e não sejam armazenados em servidores.
“Esses dados são permanentemente apagados da OrB. É gerado, então, um código de verificação, não um código da íris, um código desse processo de verificação. Esse código é quebrado em vários fragmentos e cada fragmento vai para um local diferente da internet. Isso tudo para proteger e aumentar a segurança da informação de cada um dos usuários. Então a World, nem os parceiros da Word, ficam com nenhum tipo de informação do usuário, nem sequer o nome do usuário, o protocolo tem acesso”, afirmou.
Garantia de que nenhum dado é armazenado
Como garantia de que nenhum dado é armazenado, Tozzi afirma que os usuários podem ter acesso aos documentos das auditorias realizadas no aparelho de captura da biometria, a OrB, que são disponibilizados no site do projeto.
“E como os usuários podem ter acesso ou entender, realmente, como tudo isso acontece na prática? O próprio site do protocolo World tem uma série de informações e documentos. As OrB, são auditadas por entidades independentes, os relatórios dessas auditorias são publicados e estão disponíveis no site. Então, toda essa informação está disponível para que todos possam acessá-la”, contou.
“O que o usuário também consegue fazer dentro do aplicativo, é pedir um relatório de quais informações estão armazenadas ali, que dados tem, e o usuário tem a possibilidade no próprio aplicativo de solicitar que os dados sejam apagados permanentemente do telefone e isso seja tudo deletado”, completou. Questionado se caso o usuário opte por solicitar a exclusão de seus dados do aplicativo, os criptoativos que ele recebeu após escanear a íris serão tomados de volta ou cobrados, caso a pessoa já tenha efetuado a troca dos pontos por dinheiro, Tozzi garantiu que não.
Nenhum dado pessoal, além da biometria das íris, é solicitado
Ainda sobre a proteção de dados, Tozzi informou que as pessoas que participaram do projeto não fornecem nenhum dado pessoal, além de um nome de usuário, que pode ser um nome qualquer e um número de telefone para backup do acesso ao aplicativo.
“O que acontece, o usuário, na verdade, a única coisa que ele preenche no aplicativo é criar um nome de usuário, ele inventa um nome qualquer para ser o usuário dele, e ele tem a opção de colocar o número de telefone celular, que é simplesmente para fazer o backup das próprias informações. Nem sequer o nome do usuário é solicitado, esse número de telefone celular fica só no aplicativo para fazer backup. Nada disso vai para o servidor e nunca é cruzada nenhuma dessas informações. Então, a única informação que o protocolo World captura, utiliza, é esse código de verificação da íris, que é só para garantir que apenas um humano se verificou uma única vez. Então, não tem absolutamente nenhuma informação armazenada”, enfatizou.
Ao ser questionado sobre a exigência da apresentação de um documento de identificação no momento em que a pessoa vai até os postos de atendimento para realizar o escaneamento da íris, Tozzi informou que o documento é solicitado apenas para comprovar que a pessoa é maior de 18 anos.
“Na verdade a solicitação de um documento oficial é só para comprovar que o usuário é maior de 18 anos, nada mais do que isso”, garantiu.
Está em conformidade com a LGDP?
O porta-voz da World no Brasil explicou que para participar do processo os usuários precisam aceitar um termo de consentimento que fica disponibilizado no aplicativo e garante que apesar das críticas, o projeto WorldID está totalmente em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados e das regras da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
“Tem algumas telas no aplicativo que o usuário tem que concordar e tem que passar no passo a passo, quando ele faz o download do aplicativo e cria o nome do usuário, tem um processo de consentimento, sim. Do uso da aplicação como um todo”, declarou.
“Completamente em conformidade (com a LGPD). Tanto é que tudo isso é feito de uma forma anônima. Simplesmente não há cruzamento nenhum de informação e o Word não fica com nenhum dado daquele usuário. Os dados pertencem ao usuário”, concluiu.
Fique por dentro!
Para ficar por dentro de tudo sobre o universo dos famosos e do entretenimento siga @leodias no Instagram.
Agora também estamos no WhatsApp! Clique aqui e receba todas as notícias e conteúdos exclusivos em primeira mão.