Especialista aponta as principais causas da obesidade nos dias de hoje
Em entrevista ao portal LeoDias, o médico Bruno Geloneze dá detalhes sobre a doença crônica, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde

Encarar a onda de desinformações sobre a obesidade pode ser um desafio, pois ainda existem muitos estigmas e preconceitos. Apesar de ser uma doença crônica reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com raízes neuroquímicas, ou seja, envolve funcionamento cerebral e processos biológicos profundos e que tende a voltar, a sociedade ainda relaciona a condição a maus hábitos e comportamentos individuais, como excesso ou compulsão por comida, preguiça de praticar atividades físicas, falta de vontade e autocontrole.
Para falar um pouco mais sobre essa condição complexa, que frequentemente é discutida devido ao seu impacto significativo na saúde pública e na vida das pessoas, o portal LeoDias entrevistou o médico Bruno Geloneze, especialista em Endocrinologia e Metabologia, que detalhou a doença.
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De acordo com ele, as principais causas da obesidade hoje são “uma mistura de um comportamento com ingestão alimentar maior do que a necessidade, e um gasto energético reduzido”. “Estou simplesmente falando que as pessoas estão gastando menos e consumindo mais, sim. E quais são os fatores que levam a isso? Primeiro, nós temos o ambiente chamado obesogênico, muito mais alimentos com grande conteúdo de calorias, e uma completa automação da vida (…) Em relação ao consumo de mais alimentos, existe também o grande marketing, como se a gente devesse ser mago e ao mesmo tempo consumir cada vez mais”, destaca.
O especialista explica que depois que a pessoa ganha peso ou consome gordura em excesso, existe uma alteração no sistema nervoso central, na região chamada hipotálamo. “E ali, os sinais neuroquímicos, que vão aumentar a saciedade, começam a falhar. E ao contrário, os que aumentam a fome aumentam; esse são os neurotransmissores do sistema nervoso central aumentando a fome e diminuindo a saciedade. Mesmo que a pessoa tente manter hábitos saudáveis, jamais ela vai conseguir controlar o seu hipotálamo, que é uma região que funciona a despeito da nossa intenção”, diz.
Tendência à fome
Ainda segundo Geloneze, algumas pessoas, geneticamente, já nascem com um pouco mais de tendência à fome, e uma tendência a menor gasto energético. “Mas tem uma outra coisa interessante que, mesmo pessoas expostas a essa alimentação inadequada, nem todas vão desenvolver uma alteração do hipotálamo, determinando esse mal funcionamento do sistema nervoso central”, pontua o médico, que é pesquisador clínico nas áreas de Diabetes e Metabolismo e coordenador do Laboratório de Investigação em Metabolismo e Diabetes – LIMED, da UNICAMP.
“Na mesma forma, se a pessoa tem ganho de peso (…) Algumas vão ganhar peso numa região como, por exemplo, quadril e raiz de coxa – que é a gordura subcutânea mais feminina, que não vai trazer tanto problema para a saúde. Aliás, praticamente não vai trazer nenhum problema para a saúde. O grande problema não é ganhar peso. A genética influencia muito mais o local de distribuição do peso”, emenda.
O especialista, então, exemplifica: Duas pessoas comem a mesma quantidade de comida. Uma vai ter mais fome, outra menos fome, outra mais saciedade, outra menos saciedade. Isso pode variar em função até das questões culturais. O que nunca vai mudar, em relação às questões culturais, e sempre determinado pela genética, é o local na qual a gordura vai ser depositada. Se é mais subcutâneo e ginecoide, mais feminino, mais ser tranquilo. Se é mais visceral e mais androide, mais masculino, abdominal, pior para a saúde”.
Doença recidivante?
Geloneze ainda explica por que a obesidade é considerada uma doença recidivante, ou seja, que pode voltar mesmo depois do tratamento. “Primeiro, pela observação clínica, quase sempre volta. Mais do que isso, se sabe que o tecido adiposo, que uma vez já foi expandido, ele está prontinho para se expandir novamente com pequenos superávits na quantidade de energia que a pessoa ingere. Da mesma forma, esse sistema nervoso central desregulado ou regulado para cima, no sentido de ter mais fome e menos saciedade, não volta atrás”, afirma.
E continua: “E por isso, a tendência a voltar depois do tratamento (…) Não é voltar, nunca desapareceu. A obesidade tratada pode ter um desfecho com um peso menor e mais saudável. Parou de tratar, ela volta para a sua situação original, tal o qual outros exemplos, como a hipertensão. A pessoa tem hipertensão arterial, trata. Se ela parar de tratar, ela volta. Não é que é recidivante, ela nunca deixou de existir”.
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