Hepatite na manicure: Veja como clientes e profissionais devem se proteger
Em entrevista ao portal LeoDias, a hepatologista Patricia Almeida ressalta que o risco da transmissão de hepatites em salões de beleza ainda é muito subestimado, e isso acontece por falsas crenças que se espalham com facilidade

O mês de julho é marcado no Brasil pela campanha nacional “Julho Amarelo”, dedicada à conscientização e ao combate às hepatites virais, que ainda seguem silenciosas e subnotificadas no Brasil, mesmo com os avanços no diagnóstico e tratamento nos últimos anos.
E, em meio às ações, vale lembrar que o cuidado vai além das vacinas e do acompanhamento médico: ele começa também em hábitos diários, como ir ao salão de beleza. Em entrevista ao portal LeoDias, a hepatologista Patricia Almeida explica como evitar a transmissão da doença ao fazer as unhas. Ela ainda ressalta o risco de transmissão dos vírus das hepatites B e C, caso o rigor no uso de materiais descartáveis e/ou estéreis não seja seguido.
Veja as fotos
Mesmo após avanços e campanhas, ainda hoje muitos estabelecimentos não seguem protocolos adequados de esterilização, deixando aberta essa brecha de contágio. “Há sinais claros que podem ajudar o cliente a identificar se um salão se preocupa ou não com a segurança sanitária. Um dos principais é observar se os instrumentos perfurocortantes (como alicates e tesouras) estão embalados individualmente e são abertos na sua frente. Isso indica que passaram por esterilização adequada, preferencialmente em autoclave, o equipamento mais seguro, capaz de eliminar vírus resistentes como o da hepatite B e C”, diz Patricia.
Outros pontos importantes, de acordo com a especialista, são o uso de luvas descartáveis, ambiente limpo e organizado, descarte de itens como lixas e palitos após o uso, e a presença de protocolos claros de higienização. “O cliente tem todo o direito de perguntar sobre esses cuidados — e o profissional tem o dever de responder com transparência”, enfatiza a médica do Hospital Israelita Albert Einstein.
Questionada se a cultura do “deixa que eu trago meu kit” resolve ou mascara um problema maior, ela destaca: “Trazer o próprio kit é uma medida de proteção individual válida, mas não deve ser a única barreira de segurança. Ao focar apenas nisso, acabamos mascarando um problema estrutural: a falta de responsabilidade sanitária de alguns estabelecimentos”.
E continua: “Todos os instrumentos, mesmo os pessoais, precisam ser corretamente esterilizados com equipamento adequado. Não basta “passar álcool”, “colocar na água fervente” ou “deixar descansando” — práticas muito comuns, mas ineficientes contra vírus como os da hepatite. Além disso, salões que permitem a reutilização de instrumentos sem esterilização adequada colocam em risco todos os clientes, não apenas os que não levam o próprio kit. Ou seja, o cuidado precisa ser coletivo e profissional”.
Tema ainda é subestimado
Para a hepatologista, o tema ainda é subestimado tanto pelos profissionais quanto pelos clientes. “Infelizmente, sim. O risco da transmissão de hepatites em salões ainda é muito subestimado, e isso acontece por falta de informação e por falsas crenças que se espalham com facilidade. Já escutei de profissionais: ‘Eu não corto minhas clientes’, ‘Eu deixo o alicate descansar’, ‘Uso vinagre ou álcool’, ou ainda ‘Coloco em água quente que resolve’. Nenhuma dessas práticas elimina o risco de infecção por hepatite B ou C”, garante Patricia.
A médica lembra que, além disso, muitos salões também usam estufas, que são menos eficazes que a autoclave. “A estufa não garante uma temperatura uniforme e falha frequentemente na destruição completa de vírus e bactérias. Esse é um ponto crítico: a boa intenção não substitui o procedimento correto”.
“O cliente também costuma minimizar o risco — muitas vezes por desconhecimento. Mas a hepatite é uma doença grave, silenciosa, e pode evoluir para cirrose e câncer de fígado sem dar sinais por muitos anos. A prevenção precisa ser levada a sério por todos os envolvidos”, emenda.
É possível reduzir o risco de transmissão?
A hepatologista ainda informa que é possível reduzir o risco de transmissão da doença a níveis praticamente nulos — desde que todos façam sua parte. “No caso da hepatite B, a vacinação é a principal forma de proteção, e está disponível gratuitamente no SUS. Toda pessoa adulta deve verificar se tomou as três doses. Já para a hepatite C, que ainda não tem vacina, o único caminho é a prevenção rigorosa, com esterilização profissional e protocolos de biossegurança bem estabelecidos”, diz.
“Portanto, não se trata de um risco “inevitável” — é um risco evitável e controlável, se houver responsabilidade. A missão de tornar os ambientes de beleza seguros depende tanto dos profissionais quanto dos estabelecimentos. O cliente também tem seu papel: questionar, observar e escolher locais comprometidos com a saúde. Beleza com saúde é possível — e necessária”, conclui Patricia Almeida.
ONU: questão de saúde pública
As hepatites virais fazem parte da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) para eliminação de doenças como problema de saúde pública até 2030, entre outros objetivos, para promover o desenvolvimento sustentável no mundo.
Dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais divulgado pelo Ministério da Saúde em julho do ano passado, mostram que entre 2020 e 2023 foram confirmados 785.571 casos de hepatites virais no Brasil. Destes, 171.255 (21,8%) são referentes a hepatite A, 289.029 (36,8%) a hepatite B, 318.916 (40,6%) a casos de hepatite C, 4.525 (0,6%) casos de hepatite D e 1.846 (0,2%) casos de hepatite E.
Fique por dentro!
Para ficar por dentro de tudo sobre o universo dos famosos e do entretenimento siga @leodias no Instagram.
Agora também estamos no WhatsApp! Clique aqui e receba todas as notícias e conteúdos exclusivos em primeira mão.