“O erro foi desde o início”: turismólogo critica falhas no resgate de turista morta na Indonésia
Em entrevista ao portal LeoDias, Vitor Viana denunciou desassistência em protocolos, equipamentos e suporte governamental no trágico caso de Juliana Marins

A brasileira Juliana Marins, de 26 anos, morreu após cair no Monte Rinjani, na Indonésia, na última terça-feira (24/6). O caso da jovem turista que caiu cerca de 600 metros no vulcão ativo e ficou quatro dias sem socorro ganhou ampla repercussão midiática. Ao portal LeoDias, o turismólogo Vitor Viana contou quais foram as maiores negligências na tragédia. Segundo ele, o erro foi profundo e inicial: “Só tinha um guia para fazer aquilo ali. No Brasil, por exemplo, a gente tem um protocolo; quando é trilha de alta montanha, colocamos no mínimo duas pessoas por grupo de dez. O problema foi ele deixar essa cliente, que foi a Juliana ali, e falar assim: ‘Fica aí, que eu volto’. Isso não existe”, avaliou.
De acordo com o turismólogo, o caso acende o alerta sobre protocolos de segurança em viagens turísticas, nos quais os guias precisam seguir regras prévias à risca; o que não aconteceu no caso da publicitária, que, inclusive, não era praticante de esportes radicais e foi a um local de alto risco, com um vulcão que está ativo e tem erupções desde a Idade Média, segundo o Museu Nacional. “Preciso fazer briefings com as pessoas de tudo que elas vão ver no local, além do fato de eu ter que ter um suporte para caso aconteça alguma emergência. Ela ficou na beira de um precipício, de um vulcão ativo. Na prática, os protocolos existem para solucionar problemas e para não levar ninguém a óbito. Deixaram uma menina lá, que estava totalmente despreparada, uma aventureira que estava querendo subir o vulcão”, argumentou Viana.
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Além de toda questão logística, o especialista acrescenta que é necessário conhecer o local para onde vai. “A Indonésia é um país pobre. Por isso que eu digo que viajar é você ver o que o país tem para te oferecer. O Monte Roraima, lá em Roraima, é uma trilha super difícil, mas você tem todo um preparo que o parque oferece; os guias que são capacitados; você pode pagar, inclusive, pessoas para levarem as suas mochilas e tudo mais”, disse.
Viana não hesita ao atribuir culpa também ao governo da Indonésia: “No Egito é precário, mas as equipes locais são muito boas. O governo pensa o turismo como uma fonte de renda muito grande; já na Indonésia não. Houve um erro tanto da agência que ela contratou, quanto do governo de não comunicar para a família o que de fato estava acontecendo”, disse, criticando também as falhas na comunicação com a família de Juliana: “Quando comunicam, eles passam a informação errada de que ela tinha sido atendida. Uma hora a gente teve a informação de que ela estava a 150 metros; depois, que levaram mantimentos. Então veio o voluntário dizendo que ela não foi atendida… O governo de lá deveria ter se comunicado com o governo brasileiro para passar oficialmente informações corretas”.
Para o turismólogo, os brasileiros precisam entender o risco real de viagens de aventura. No caso de países islâmicos, a questão vai além: o machismo e a violência contra a mulher muito forte. Segundo Viana, turistas mulheres têm riscos ainda maiores de sofrer represálias nesses locais, o que é preciso ter atenção redobrada: “As mulheres nesses países são tratadas como objetos e isso eu estou falando porque conheço vários países islâmicos, sei do que estou falando. A gente conversa com guias locais que dizem que as mulheres são tratadas como objetos, e quando essas mulheres são estrangeiras, mais ainda. Por isso que eu falo: viajar tem que ter responsabilidade, analisar o lugar que você vai, e contratar uma empresa do Brasil que já tenha esse conhecimento”, reforçou ele.
Por fim, Viana recomenda que, para evitar casos trágicos como o de Juliana, turistas optem por agências brasileiras que tenham parcerias comprovadas: “Façam sempre seguro viagem. Na questão do traslado do corpo, o Itamaraty disse que não pode arcar com os custos. Nesse caso, o traslado acaba sendo um problema para a família”, disse o turismólogo.
Para pontuar, Viana deixou claro que as recomendações não são no sentido de culpabilizar a vítima, mas que a própria jovem também não analisou todos os pontos destacados pelo especialista na viagem de alto risco: “Não estou culpabilizando a Juliana, muito pelo contrário! Até porque ninguém quer fazer nada para morrer, óbvio. Mas é um alerta; vamos ter responsabilidade na hora de viajar, porque é muito sério. E quando a gente fala de países islâmicos, mulher turista, que é de fora, tem que ter cuidado redobrado”, argumentou ele.
A família de Juliana acusa negligência grave das equipes oficiais de resgate e da embaixada brasileira, e destaca informações falsas divulgadas pelas autoridades, bem como a demora na resposta. As autoridades anunciaram revisão nos protocolos de emergência no parque, e o Brasil confirmou o envio de diplomatas para apoiar o pai de Juliana. Além disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou o apoio ao traslado do corpo, que será realizado com custo da prefeitura de Niterói, e aguarda conclusão da autópsia em Bali.
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