BYD desafia modelos antigos e acirra debate sobre indústria automotiva no Brasil
Reação de concorrentes à expansão da BYD levanta debate sobre inovação, impostos e modelos de produção

A expansão da montadora chinesa BYD no Brasil tem provocado uma movimentação incomum nos bastidores da indústria automotiva. Recentemente, quatro das principais fabricantes com operação no país — Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors — assinaram uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionando medidas que favorecem a empresa asiática. O ponto central da insatisfação: a redução temporária de impostos para veículos elétricos parcialmente montados no Brasil, proposta que beneficiaria diretamente a BYD.
O documento assinado pelas montadoras brasileiras argumenta que esse tipo de incentivo criaria um ambiente de “concorrência desleal”, pois permitiria a entrada de carros com maior valor agregado por um custo final mais baixo, sem que houvesse, segundo elas, contrapartidas equivalentes em produção nacional. A questão é sensível, sobretudo em um momento de recuperação do setor industrial e de esforços por reindustrialização em várias frentes.
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BYD responde
A resposta da BYD, tornada pública em uma nota firme, traz outro ponto de vista. Para a companhia, a reação das concorrentes revela resistência à inovação. A empresa argumenta que segue um modelo de transição já adotado por outras montadoras no passado: iniciar operações com montagem local enquanto finaliza a construção de uma planta industrial completa. Segundo a BYD, esse processo já está em curso na fábrica de Camaçari (BA), instalada onde antes funcionava uma unidade da Ford — que deixou o país em 2021.
A crítica central da BYD se apoia no contraste entre o modelo tradicional e o que ela considera uma nova lógica de mercado. A empresa chinesa tem se destacado por oferecer veículos elétricos com tecnologia de ponta a preços mais acessíveis, conquistando rapidamente uma fatia relevante do mercado brasileiro. Como reflexo, outras marcas reduziram os preços de modelos elétricos em mais de R$ 100 mil para se manterem competitivas.
Embate vai além do comercial
O embate, no entanto, não se resume a uma disputa comercial. Ele ilustra um dilema maior: como equilibrar a proteção à indústria local com o estímulo à inovação e à transição energética. A política de incentivos fiscais para veículos elétricos tem sido uma ferramenta importante em países que buscam descarbonizar suas frotas. No caso da BYD, o argumento é que a redução de impostos deve contemplar empresas que já estão gerando empregos e movimentando a cadeia produtiva nacional, ainda que parte do processo inicial dependa de componentes importados.
Além do caso brasileiro, a BYD citou como exemplo um episódio recente envolvendo a União Europeia. Em 2023, o bloco anunciou a abertura de uma investigação contra montadoras chinesas, inclusive a BYD, por supostos subsídios estatais irregulares. A medida provocou reação imediata de Pequim, que acusou os europeus de protecionismo. A investigação segue em andamento, mas o caso serve como pano de fundo para o atual debate no Brasil.
Em meio a esse cenário, a discussão sobre o papel do Estado e os caminhos da política industrial ganha novos contornos. O que está em jogo não é apenas a sobrevivência de marcas tradicionais ou a ascensão de novas fabricantes, mas a definição de um modelo de mobilidade mais sustentável, eficiente e acessível para os brasileiros. A escolha entre proteger o status quo ou acelerar a transformação tecnológica será determinante para o futuro da indústria automotiva nacional.
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