Estreito de Ormuz: entenda como o Irã pode fechar rota de 20% do petróleo mundial
Mísseis antinavio, minas navais, embarcações velozes e drones suicidas integram a infraestrutura militar que Irã desenvolveu para controlar uma das passagens marítimas mais importantes do comércio global, o Estreito de Ormuz

A recente ameaça iraniana sobre uma possível interrupção no Estreito de Ormuz — canal estratégico por onde escoa cerca de 20% do petróleo consumido mundialmente — gerou novos alertas entre líderes internacionais. Nesta segunda-feira (23/6), a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, declarou que tal cenário seria “extremamente perigoso” e que tal medida “não seria boa para ninguém”.
Mas o que realmente implica uma eventual interdição da passagem? E como o Irã poderia bloquear o trânsito em um ponto de importância vital para a economia global, mesmo que o estreito esteja parcialmente em águas internacionais?
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A faixa de navegação, situada entre Irã e Omã, em parte segue sob a jurisdição desses países, mas a rota principal dos navios comerciais ocorre em águas que, pelos tratados da ONU, são abertas. Legalmente, isso restringe o poder do Irã sobre a via. No entanto, o potencial ofensivo e o posicionamento geográfico da república islâmica oferecem outras possibilidades.
Como o Irã tentaria parar a navegação?
Ao longo da última década, o governo iraniano ampliou sua capacidade militar costeira e investiu em recursos assimétricos para tornar a área um campo arriscado para o transporte marítimo. Uma das opções mais prováveis seriam minas marítimas, que podem ser espalhadas por submarinos, navios menores e até aeronaves, criando obstáculos quase invisíveis e difíceis de neutralizar.
Além dessas minas, o Irã conta com baterias móveis de mísseis antinavio distribuídas por toda a costa do Golfo Pérsico. Sistemas como o Noor e o Khalij Fars são armamentos de longo alcance que podem ser facilmente movidos e escondidos, complicando uma possível resposta militar ocidental.
Esse arsenal não se limita a mísseis. A Guarda Revolucionária Iraniana dispõe de lanchas ultrarrápidas e drones suicidas que têm a capacidade de cercar e atacar embarcações em ações simultâneas. Esses ataques, além de desestabilizadores, já foram colocados em prática contra navios israelenses, evidenciando que o Irã consegue projetar seu poder além das fronteiras.
Um ponto vital para a economia global
Ormuz conecta o Golfo Pérsico ao mar de Omã e, por fim, ao oceano Índico. Por essa estreita passagem, circulam todos os dias quase 17 milhões de barris de petróleo, além de gás natural liquefeito vindo do Catar. A simples possibilidade de fechamento do canal já causa impactos consideráveis: embarcações desviam suas rotas, prêmios de seguro disparam e o preço do barril sobe instantaneamente.
Esse tipo de movimentação já ocorreu antes. Em 2019, Irã capturou um petroleiro britânico como retaliação a uma apreensão anterior de uma embarcação iraniana em Gibraltar. Mais recentemente, embarcações associadas a países que apoiam Israel também foram alvo de ações no Golfo.
Os episódios passados são marcantes. Em 1988, uma mina iraniana danificou seriamente uma fragata americana e, como resposta, os Estados Unidos destruíram navios e plataformas de vigilância do Irã. No mesmo ano, um navio de guerra dos EUA abateu um avião comercial iraniano, ceifando a vida dos 290 ocupantes, entre eles 66 menores, num engano que Washington posteriormente atribuiu a uma falha de identificação.
Política do medo
Para além do poder militar direto, o maior trunfo do Irã é a própria ameaça. Basta a perspectiva de fechamento do estreito para que o nervosismo tome conta dos mercados globais. A reação instintiva das empresas e investidores eleva o preço do petróleo e aumenta a insegurança no abastecimento.
Enquanto isso, a comunidade internacional segue de perto os movimentos na região. Estados Unidos e Reino Unido mantêm patrulhas constantes no Golfo Pérsico, preparados para proteger o fluxo comercial. Por esse motivo, qualquer ação efetiva de fechamento poderia desencadear uma resposta armada imediata.
Assim, a ameaça iraniana funciona tanto como um instrumento de pressão política quanto um aviso estratégico. Como lembrou Kaja Kallas, a apreensão causada por essa hipótese reflete o temor global de que uma ação extrema possa deflagrar não apenas uma nova crise no Oriente Médio, mas também um colapso econômico de alcance mundial.
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