Renda extra ou inversão de valores? Estádios com grama sintética viram palcos de shows
Allianz Parque e Estádio Nilton Santos, em meio a polêmica de grama sintética x natural no futebol, viraram alguns dos principais palcos de shows no Brasil
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Uma polêmica foi instaurada no futebol brasileiro após um movimento de jogadores, liderados por Neymar, Thiago Silva, Philippe Coutinho e Lucas Moura, contra gramados sintéticos ganhar corpo. Entre riscos de lesões e mudanças na forma que o esporte é praticado vieram ao centro do debate. No entanto, um outro fator parece ter sido deixado de lado: o uso de estádios com grama sintética para realização de shows. Será isso uma boa fonte de renda extra para clubes ou uma inversão de valores sobre a verdadeira finalidade dos estádios?
Com alto faturamento, estádios como o Allianz Parque, do Palmeiras, e o Nilton Santos, do Botafogo, se tornaram importantes palcos de shows no país. No entanto, o futebol, em determinados momentos, o futebol acaba sendo deixado de lado.
Veja as fotos
Allianz Parque
Em 2011, o Palmeiras fechou um acordo com a construtora WTorre, que financiou a demolição e a construção de uma arena no local onde ficava o antigo estádio Palestra Itália, conhecido como Parque Antarctica. Durante pouco mais de 3 anos, a construtora ergeu uma arena moderna, no padrão “FIFA”: o Allianz Parque.
O novo estádio não devia em nada para as arenas que haviam sido construídas para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil e colocava o clube paulista em igualdade com outros clubes que tiveram reformas ou novos estádios construídos no período.
O negócio foi extremamente vantajoso do ponto de vista financeiro para o clube, uma vez que o Palmeiras não teve de arcar com nem um centavo na construção do novo estádio. No entanto, o clube passou a lidar com um problema. A WTorre teria o direito a explorar o estádio comercialmente por 30 anos (iniciado em 2014). Com isso, outros eventos esportivos e shows, negociados pela empresa, poderiam acontecer sem a possibilidade de “veto” por parte do clube.
Desde a inauguração do estádio, não foram poucas as vezes que o clube teve de ou remarcar partidas importantes para outros estádios como o (antigo) Pacaembu e o MorumBis. Em 2024, por exemplo, o clube precisou limitar a quantidade de público na partida decisiva contra o Botafogo, pela 36ª rodada do Brasileiro, por conta de um show que seria realizado no local. Em 2019, nas quartas-de-final da Libertadores, o Palmeiras precisou mandar o confronto decisivo contra o Grêmio por conta de um show no Allianz Parque. E esses são duas de algumas dezenas de vezes que o clube foi prejudicado em partidas importantes por conta de shows em sua casa.
A quantidade de eventos é tanta que, em 2020, o clube fechou uma parceria com a empresa SoccerGrass para trocar a grama natural, que não aguentava a montagem de estruturas de shows e, com recorrência, apresentava danos, para a grama sintética.
Ainda assim, o gramado continuou sendo ponto de críticas, uma vez que até o piso sintético não aguentou a quantidade de eventos. Ao final de 2023, o treinador do Palmeiras reclamou que o gramado sintético estava em péssimo estado apresentando derretimentos da borracha utilizada na estrutura e com restos de pulseiras deixadas por fãs da cantora Taylor Swift durante turnê da atriz. Com o estado ruim, a grama sintética precisou ser substituída em 2024.
Com a constante troca de estádios, a empresa da presidente Leila Pereira adquiriu a administração da Arena Barueri, para que o estádio se tornasse a 2ª casa do Palmeiras sempre que Allianz Parque não esteja disponível. No entanto, com baixa adesão da torcida alviverde e até críticas do técnico Abel Ferreira que, em 2023, chegou a declarar que o estádio não era o “chiqueiro” (termo usado pela torcida do Palmeiras, que chama o clube de “Porco”, para se referir ao próprio estádio) que estavam acostumados.
Estádio Nilton Santos
Levantado pela Prefeitura do Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos de 2007, e concessionado ao Botafogo desde o mesmo ano, o Estádio Nilton Santos, conhecido como “Niltão” ou “Engenhão”, até 2023 havia recebido poucos shows em sua história.
A história passou a mudar quando a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Botafogo foi adquirida pelo fundo de investimentos dos Estados Unidos, Eagle Holding, que tem como seu presidente o empresário bilionário John Textor, em 2022. No ano seguinte, o clube fez uma reformada e substituiu a grama natural do estádio por grama sintética e passou a explorar a estrutura do estádio para trazer grandes artistas internacionais e nacionais.
Diferente do Palmeiras, o Botafogo tem total controle sobre a exploração comercial do estádio e pode, sempre que for necessário, vetar a realização de shows no local. Ainda assim, por alguma vezes, o clube preteriu os interesses esportivos e resolver levar suas partidas para outros locais.
O caso mais emblemático aconteceu em 2023, quando o “Engenhão” recebeu shows do grupo RBD, enquanto o clube disputava ponto a ponto o título do campeonato brasileiro com o Palmeiras. O Botafogo levou a partida contra o Grêmio para o estádio do Vasco, São Januário, e acabou derrotado por 4 a 3. O atacante uruguaio Luis Suárez fez 3 gols para a equipe gaúcha naquela oportunidade. Acontece que, por conta de problemas físicos, o atacante não disputava partidas em estádios com grama sintética. Com isso, a troca de estádio possibilitou que a estrela uruguaia entrasse em campo e fosse decisivo na partida.
Também em 2023, uma morte antes da apresentação da cantora Taylor Swift chocou fãs e todos país. Em meio a uma forte onda de calor no Rio de Janeiro, a jovem Ana Clara acabou passando mal e teve uma parada cardíaca. O falto de acesso a água e a estrutura montada pela organização do evento (com excesso de placas de metal) foram apontados como os principais culpados pela tragédia.
O clube parece ter “aprendido” a lição e reduziu prejuízos esportivos a partir de 2024, sem prejudicar no âmbito financeiro. O clube chegou até a cancelar a apresentação da banda Forfun no estádio, uma vez que o Botafogo seria obrigado a sair de sua casa em uma partida importante no Brasileirão.
Ao longo do último ano, o Botafogo precisou trocar de estádio apenas uma vez, quando o cantor Bruno Mars fez uma turnê de shows em outubro. A equipe carioca transferiu o jogo contra o Criciúma para o Maracanã e acabou empatando em 1 a 1. Ainda assim, diferente do ano anterior, o Botafogo comemorou as conquistas do Brasileirão e da Libertadores.
Estádios com grama natural também recebem shows
Por mais que estádios de grama sintética tenham se colocado na “agenda” de eventos, seria injusto dizer que clubes e empresas que possuem estádios de grama natural também colocam seus estádios com disponibilidade para receber shows.
O caso mais emblemático é o MorumBis, estádio do São Paulo. Não são poucos os eventos que o tricolor paulista recebe em sua casa. Desde a década de 80, a casa do tricolor paulista se notabilizou por receber grandes estrelas internacionais do quilate do Queen, Menudo, Red Hot Chili Peppers, Michael Jackson, Madonna e, mais recentemente, Bruno Mars. O clube, no entanto, costuma aproveitar datas as quais não possui jogos no estádio e toma cuidado para não prejudicar o gramado. Foram poucas as vezes nos últimos anos que o São Paulo teve de “mudar” de estádio por conta de apresentações. Este ano, a colombiana Shakira “abriu” os trabalhos no estádio que também será palco de shows do grupo de K-pop Stray Kids e da banda inglesa Oasis.
Outro estádio que também se notabiliza por receber grandes shows é o Maracanã. Com shows lendários em sua história, o “Maraca” já foi palco de apresentações de artistas como Frank Sinatra, Madonna, Rolling Stones e até mesmo a 2ª edição do Rock in Rio. Atualmente administrado por um consórcio formado por Flamengo e Fluminense, o estádio tem como prioridade máxima o futebol e só costuma agendar apresentações após o final da temporada. Ano passado, o estádio recebeu uma apresentação do grupo Sorriso Maroto, único show no estádio em 2024. Ainda não há apresentações marcadas para este ano.
O caso mais problemático é, sem sombra de dúvidas, o do Mineirão. Assim como o Allianz Parque e Estádio Nilton Santos, o Mineirão também está na “rota” de shows. Administrado pela Minas Arena, o estádio é alvo de queda de braço entre os clubes mineiros e a iniciativa privada. O consórcio costuma marcar apresentações em detrimento de Atlético-MG e Cruzeiro, que mandam suas partidas por lá. Em 2023, o Galo chegou a reclamar publicamente da qualidade do gramado antes de uma partida do campeonato brasileiro. O “problema” passou a ser unicamente do Cabuloso, uma vez que o alvinegro inaugurou seu estádio em 2023, a Arena MRV, que também irá aderir o gramado sintético em 2025.
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